COQUETELEIRA

⍟ Hoje temos uma variedade de modelos de coqueteleiras, com materiais e cores diferentes, mas nem sempre foi assim. Saiba como os drinks eram preparados antes do seu surgimento e como este utensílio ganhou espaço importante dentro dos bares

Quando analisamos livros antigos de coquetelaria ou nos debruçamos sobre a história dos mais famosos cocktails, muitas vezes esquecemos de nos perguntar como é que utensílios são essenciais quanto as coqueteleiras, abridores e biqueiras chegaram ao bar. Nesta matéria, vamos voltar no tempo para traçar a trajetória desta ferramenta tão importante no dia a dia da nossa profissão e compreender como e por que utilizamos as ferramentas que temos hoje.

Sabemos que no século XIX, antes mesmo que o gelo fosse uma realidade absoluta na produção de drinks, as bebidas já eram misturadas de alguma forma. Além da mistura diretamente no copo, como acontecia com as versões mais primitivas de mixing glass, os bartenders faziam as bebidas passarem de um copo para outro diversas vezes até julgarem que a mistura estava pronta. Mas a história nos conta que existiam exemplares centenários ou até milenares de equipamentos parecidos com as coqueteleiras.

PRIMÓRDIOS DAS COQUETELEIRAS

Algumas evidências apontam que, em 7000 A.C., os povos originários da América do Sul consumiam bebidas alcoólicas obtidas por meio de fermentação em potes fechados feitos a partir de frutas, como a cabaça. Já no século XVI, o explorador espanhol Fernando Cortez enviou uma carta ao rei, contando que os povos encontrados serviam bebidas espumosas em recipientes cilíndricos dourados.

O surgimento das primeiras coqueteleiras usadas no bar aconteceu, de fato, no século XIX, como veremos mais adiante. Porém, uma vez criadas, elas precisaram se adaptar a alguns acontecimentos históricos mais modernos. Um exemplo interessante foi a Lei Seca americana, que proibiu a produção, venda e consumo de bebidas alcoólicas nos Estados Unidos entre os anos de 1920 e 1933. Para manter os bares funcionando como speakeasies e o consumo doméstico em pleno vapor, fabricantes começaram a criar ‘misturadores de bebidas e sucos’ com designs divertidos, como coqueteleiras em formato de animais, aeronaves, faróis e outros. Além de servir o propósito de manter a cultura etílica viva, também divertiam o público.

As coqueteleiras com design requintado, com estilo, também tinham seu lugar dentro dos bares domésticos.

Durante a Segunda Guerra Mundial, por outro lado, a indústria de produção de materiais de metal precisou dar alguns passos para trás. Não porque não houvesse mercado consumidor, mas porque fazia parte da estratégia de guerra transferir todo o ferro, aço e outros metais disponíveis no país para a produção de armamentos bélicos – causando um apagão no setor.

Após o término da guerra, as indústria norte americana se solidificou e, com a popularização dos rituais de consumo entre amigos, famílias, festas e bares, as coqueteleiras passaram a fazer parte do cotidiano.

CRIATIVIDADE: AS PRIMEIRAS PATENTES DE COQUETELEIRA

No século XIX, os Estados Unidos viviam uma época de crescimento e desenvolvimento da coquetelaria – ainda que incipiente se comparada à cultura de bar que temos hoje. A criatividade estava em alta no país, que criava novos drinks, publicava livros e capitaneava inovações que mudaram a história do bar. As coqueteleiras, é claro, foram parte disso.

As primeiras patentes de coqueteleiras foram registradas por lá, documentando a a evolução deste utensílio no mercado norte americano. A mais antiga de que se tem registro data de dezembro de 1872, registrada pelo nova iorquino William Harnett sob o nome de ‘aparato para misturar drinks‘. A engenhoca permitia misturar o conteúdo de seis coqueteleiras diferentes ao mesmo tempo, com o uso de força mecânica.

Em 1950, as coqueteleiras boston dominavam os bares em duas versões: com dois copos de metal ou com um copo de vidro.

Em 1877, W. H. Trepus criou outro modelo, com ventilação de ar na parte inferior da coqueteleira. Já em 1881, Linus Williams criou outro modelo de coqueteleira, com base no tipo boston shaker, para evitar vazamentos usando uma peça responsável por encaixar dois copos iguais. Anton Eggers, em 1882, criou a possibilidade de adicionar um copo a uma coqueteleira com um bico semelhante a uma jarra de suco. A lista de patentes continua, até uma criação interessante de coqueteleira com tampa de rolha, semelhante a uma cobbler shaker, na década de 1925.

Embora tantas patentes tenham sido registradas de modo a ampliar a oferta de produtos para a indústria norte-americana ao longo do tempo, hoje são utilizados três modelos nos bares mundo afora: boston, cobbler e french. Não existe a ideia de que uma seja melhor do que a outra. Cada coqueteleira tem uma funcionalidade e estrutura particular, por isso todas têm seu lugar na preferência dos bartenders.

coqueteleiras antigas
Esses eram alguns tipos de ‘misturadores de bebidas’ dos séculos passados. Hoje, esses aparatos são peças para colecionadores, vendidos em leilões ao redor do mundo.

Veja abaixo as características dos principais tipos de coqueteleiras:

AS COQUETELEIRAS: BOSTON SHAKER

Antes da chegada da coqueteleira do tipo boston, os bartenders misturavam suas bebidas fazendo a passagem de um copo para outro – algo como mostra a ilustração icônica de Jerry Thomas com seu Blue Blazer. Apesar de encantar os clientes com o mise en scene, a técnica não era tão eficaz na hora de preparar as bebidas. Por isso, alguns bartenders começaram a testar novas possibilidades para aprimoramento da técnica. Até que um funcionário de hotel percebeu que era possível encaixar dois copos de tamanhos diferentes (o maior é a coqueteleira, propriamente, e o menor é a tampa, chamado de mini-tin) de forma que o sistema ficasse completamente fechado e a bebida pudesse ser agitada sem vazamentos. Voilá!

Os primeiros modelos eram feitos com mini tin de vidro e a coqueteleira de metal, como ainda encontramos atualmente. Porém, com o passar do tempo e do maior acesso a materiais como o aço inoxidável, este acabou se tornando seu material padrão. Simples de montar, utilizar e higienizar, não foi à toa que este modelo de coqueteleira acabou se tornando o mais popular ao redor do mundo.

AS COQUETELEIRAS: COBBLER SHAKER

Não tão popular quanto a coqueteleira Boston, mas bastante funcional na hora de servir drinks, a coqueteleira do tipo Cobbler surgiu com o aprimoramento da patente US-300,867, registrada pelo nova iorquino Edward Hauck em 1884. Era composta de três partes: o copo, a parte superior com strainer e uma pequena tampa. O conceito de um aparato para misturar drinks com um strainer interno tornava mais simples e rápido o preparo de cocktails como o grande sucesso da época, o Sherry Cobbler, feito com vinho jerez, açúcar, frutas e muito gelo. Ao agitar a bebida e servir, este novo tipo de coqueteleira coava internamente os pedaços de gelo e frutas, fazendo com que só a bebida chegasse ao copo. Ao final, o bartender precisaria apenas completar com o gelo britado, guarnecer com as frutas ou folhas da época, e servir.

O Sherry Cobbler pode não ser mais um drink de grande popularidade ao redor do mundo, mas seu nome ficou gravado na história das coqueteleiras. Este modelo, apesar de ser pouco prático na rotina do bar, devido às peças que precisam de higienização cuidadosa, ainda é bastante utilizado dentro de casa e preferido por bartenders no preparo de bebidas sem muitos elementos sólidos em suspensão, como o Dry Martini, por exemplo, servido diretamente na taça sem gelo.

AS COQUETELEIRAS: FRENCH SHAKER

Uma coqueteleira simples, com influência da estética francesa. Os franceses acompanhavam a incursão dos bartenders e da cultura de bar americana em seu território e, inspirados no que viam, decidiram criar um conceito de coqueteleira com um design um pouco mais artístico. Embora não exista uma patente registrando oficialmente sua criação, estima-se que ela tenha surgido por volta da década de 1880.

Também conhecida como coqueteleira parisiense – Parisian Shaker, em inglês -, ela tem uma estrutura mais sólida. Ou seja, não é feita de copos com tamanhos diferentes ou diversas peças que precisam ser encaixadas: é composta de copo e tampa, que se encaixam de forma integral. Seu design tem curvas suaves que permitem que a bebida seja misturada sem o emprego exagerado de força, que muitas vezes pode levar à quebra excessiva de gelo ou de ingredientes e diluição mais rápida do cocktail.

O estilo ainda é bastante utilizado na Europa, porém não encontrou a mesma preferência no Brasil e no restante da América.

Agora que você já conhece um pouco sobre a história do surgimento das primeiras coqueteleiras no bar, descubra a história do gelo e como ele revolucionou a coquetelaria:

História do gelo na coquetelaria e sua evolução – Parte 1

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