Uma data para celebrar os sabores da coquetelaria portuguesa, ó pá!

⍟ A partir deste ano, o 18 de maio passa a ser Dia Nacional do Cocktail em Portugal. A homenagem visa resgatar o que há de melhor nos drinks lusitanos e marcar o encontro das raízes históricas de sua coquetelaria com novas tendências de mercado.

Publicado em 18 de maio de 2017, às 9h.

Imagine encontrar os principais profissionais de bar, marcas, embaixadores e apaixonados pela coquetelaria em um evento nacional, com 150 bares reunidos com a missão de servir os melhores drinks autorais pelo melhor preço. Esse será o Dia Nacional do Cocktail, a ser comemorado em Portugal pela primeira vez neste 18 de maio e cujas atividades se estenderão até a próxima quinta-feira (25).

O festival é parte do Lisbon Bar Show, principal feira do segmento realizada no país. O objetivo é trocar experiências, conhecimentos, experimentar novos sabores e descobrir as novas tendências do mercado português. Seja na gastronomia ou na coquetelaria, nossos irmãos de balcão provam que a tradição é um dos seus segredos do sucesso.

Um dos organizadores do evento, o presidente da Associação dos Barmen de Portugal, Joaquim Lopes, declarou ao site do Dia Nacional do Cocktail que o objetivo é transformar os profissionais de bar nos cartões de visitas das casas. Com esta iniciativa fazemos jus ao trabalho diário dos barmen portugueses. Este é um momento de excelência dos profissionais de bar, dedicado à demonstração da arte do mundo das bebidas – textura, cor, sabor e aroma. É uma procura entre o equilíbrio da criatividade e da inovação e que vai ao encontro dos gostos dos apreciadores de cocktails”.

NÉCTAR PORTUGUÊS

Curiosamente, foi longe de Lisboa, nas cercanias do Rio Douro, que surgiu um dos principais e mais utilizados ingredientes da coquetelaria portuguesa: o vinho. Apesar da bebida em si ter importância milenar para os gregos, romanos e estar presente até na Bíblia, foi em Portugal que ela encontrou o clima mais adequado para destacar-se, com o vinho do Porto.

Produzido com uvas tintas daquela região, ele tem um sabor único e pode-se dizer que é tão antigo quanto a própria nação que ajudou a fundar. Isso porque, segundo alguns registros históricos, a primeira vinha teria sido plantada lá em 2000 a.C. E data de 989 o primeiro registro de produção de vinhos naquela região . A presença dos gregos nas imediações, como precursores deste néctar, melhorou ainda mais as condições de produção da bebida.

O vinho, então, fez parte da alimentação básica dos portugueses desde os primórdios do país. Esteve presente nas mesas das famílias, nos jantares da realeza, no convés dos navios comerciais e caravelas durante as grandes navegações e logo se espalhou pelo mundo. O Vinho do Porto, um dos mais apreciados do planeta, é reconhecido pelo seu sabor doce, sofisticado e pode ser classificado em três categorias: branco, ruby e tawny.

Por muitos anos, foi ele o principal responsável por manter a balança comercial de Portugal equilibrada, mesmo sendo alvo de alguns acordos econômicos da época. O principal deles foi o Tratado de Methuen, firmado em 1703, para facilitar a entrada do produto no mercado da Inglaterra. Assim, Portugal teria o monopólio das importações inglesas de vinho e a Inglaterra seria o único país a comercializar tecidos com os portugueses.

Além do vinho produzido nas planícies do Rio Douro – que hoje figura entre os Patrimônios da Humanidade segundo a Unesco – Portugal é, literalmente, um terreno fértil para criações regionais.

É nas imediações do Rio Douro que são cultivadas as videiras que tornam o vinho do Porto uma bebida apreciada ao redor do mundo (Foto: João Miranda/Wikipedia Commons)

RAÍZES DA COQUETELARIA PORTUGUESA

Apesar da diferença de idade entre as duas nações, podemos dizer que a tradição coqueteleira chegou às terras portuguesas quase na mesma época em que no Brasil. Antes carregada de regionalismos, licores, vinhos e aguardentes, as primeiras capacitações internacionais começaram por volta de 1965, com a chegada dos hotéis de luxo de bandeira internacional.

Estoril Sol, Ritz e Sheraton foram os primeiros a introduzir uma carta de drinks clássica, seguidos por Algarve, Alvor, Penina, Dona Filipa e Balaia, situados em Algarve, no sul de Portugal. Eles atraíam turistas de países como Estados Unidos, Canadá e Inglaterra, que visitavam o país e já conheciam o melhor da coquetelaria internacional.

A preferência dos ilustres clientes por Daiquiris, Manhattans, Old Fashioneds, Pinas Coladas, White Ladies  e tantos outros exigiu preparo dos bartenders para entregá-los de forma correta e saborosa.

Francisco Guerreiro, nome de referência na mixologia portuguesa, explicou que essa foi a mola propulsora da coquetelaria no país. “Foi, sem dúvida, um grande desafio para os barmen, que tiveram que desenvolver as suas competências, técnicas de preparação e de servir as bebidas simples ou compostas e seus conhecimentos, para poderem servir os exigentes clientes, provocando a sua satisfação e fidelizando-os”.

Poucos anos depois, na década de 1970, foi fundado o Clube do Barman de Portugal, com o objetivo de promover a valorização cultural e profissional dos bartenders, além de concursos de cocktails e cursos, para valorizar a categoria. Três anos depois, a associação levou o segundo lugar no categoria de equipes no Mundial de Cocktails, em Los Angeles.

Tudo isso, segundo Guerreiro, trouxe motivação para que os bartenders profissionais e os jovens que estavam entrando no mercado se especializassem cada vez mais. Hoje, segundo ele, muitos são fascinados a entrar no mundo da coquetelaria e os bares especializados neste ramo já são maioria em Portugal, principalmente nas cidades de Algarve, Madeira, Porto e na capital, Lisboa.

Renomado mixologista português, Francisco Guerreiro explica que os investimentos nos bartenders foram a motivação para o desenvolvimento da coquetelaria no país

PRODUTOS LOCAIS

Regionalizar a coquetelaria com toques dos produtos típicos de um país é o caminho para a criação de uma cultura própria de drinks. Com Portugal não foi diferente. Apesar do vinho ser seu mais famoso cartão de visita internacional, há bebidas típicas que podem ser apreciadas tanto puras quanto combinadas com grandes clássicos.

Os licores, por exemplo, são consumidos com frequência pelos portugueses. Eles podem ser de frutas tropicais, café e até de uma dezena de ervas, como é o caso do seu principal “néctar”, o Licor Beirão. Ele é praticamente obrigatório nos drinks lusitanos, pois dá um sabor amargo muito característico de sua composição. Mas se você é daqueles que prefere um bom aperitivo, pode experimentá-lo também on the rocks.

E se ao ler “produtos locais” você logo pensou na Ginjinha, não se preocupe. Ela também não fica de fora da lista. Patrimônio lisboeta, ela é feita com aguardente e ginja, uma fruta avermelhada da mesma família das cerejas. O costume original era saboreá-la nas tascas e vendas do Centro Histórico da cidade, mas recentemente ganhou uma roupagem mais “gourmetizada”.

Também não há como fugir dos drinks clássicos e releituras. “Os clássicos são fonte de inspiração para os profissionais de bar darem asas a sua imaginação e criatividade na elaboração das novas composições de bar, para surpreenderem os seus clientes”, diz o mixologista português.

Eles começaram, então, a elaborar twists de cocktails já existentes, utilizando produtos locais, nacionais, frutas frescas, ervas aromáticas, especiarias, que apesar de terem um custo baixo, fazem a diferença no aroma, gosto, sabor e na aparência geral do drink.

Hoje, os barmen portugueses já vão muito além e dominam a arte da mixologia avançada e molecular, com caviares, espumas, ares, macerações, infusões, bitters, xaropes, fumos, entre outros.

Francisco Guerreiro dá a receita de um drink tradicionalmente português: o Porto Flip. Consagrado entre os clássicos da International Bartenders Association (IBA), tem entre seus principais ingredientes o Vinho do Porto, um dos grandes embaixadores da cultura de Portugal. Sua composição é clássica e remonta desde o século XIX.

PORTO FLIP

INGREDIENTES

60 ml de Vinho do Porto Tawny
10 ml de Aguardente Velha Fim de Século
1 gema de Ovo
1 colher de chá de Açúcar

MODO DE PREPARO

Adicione todos os ingredientes a uma Boston Shaker e bata a mistura vigorosamente. Efetue um Double Strain vertendo a bebida suavemente para um copo do tipo Flip. Guarneça o drink com uma noz-moscada no topo ou canela.

TENDÊNCIAS & LEGADOS

Com tamanha dedicação dos bartenders de além-mar, sua coquetelaria está em constante expansão. O investimento em profissionalização e materiais de boa qualidade se mantém como segredo para que os barmen sejam conhecidos internacionalmente. Como é o caso do próprio Francisco Guerreiro, que passou de candidato em concursos de mixologia para jurado.

Os bares e drinks nacionais procuram acompanhar as tendências do restante do mundo, sempre primando pela excelência e valorização dos seus produtos típicos.

“Os barmen portugueses estão muito bem cotados a nível mundial, não só pelos honrosos prêmios obtidos, mas também pela presença com que marcam nos melhores bares de todo o mundo, levando consigo o conhecimento e arte de bem servir e preparar as bebidas simples ou compostas, os cocktails, sendo muito respeitados pelos seus pares”, explica.

Representando o néctar embaixador de Portugal e a nobre região da Serra de Lousã, Francisco Guerreiro compartilhou compartilhou com o Clube do Barman sua receita chamada The Garden Pearl. É um verdadeiro elixir, que resulta de aromas, sabores e cores, de plantas aromáticas, sementes, especiarias e a junção de álcool agrícola, que conferem um carácter inconfundível. Perfeito para conhecer os aromas e sabores de seu país natal.

“Com a finalidade de equilibrar meu cocktail e aproximar a cor do Beirão, adicionei o Rum Havana Club 7 Años, com notas de baunilha e caramelo, a famosa Ginja de Óbidos, que lhe empresta um sabor frutado, os sumos de limão e ananás, para lhe dar o sabor cítrico e ainda um Bitter Grapefruit para lhe abrir os aromas. Por fim, a decoração com uma casca de laranja e um ramo de rosmaninho, que lhe assentou como a poesia, de Fernando Pessoa”, diz.

THE GARDEN PEARL

INGREDIENTES

40 ml de Licor Beirão
20 ml de Rum Havana Club 7 Años
10 ml de Licor Ginja de Óbidos
20 ml de Sumo de Limão Natural
10 ml de Sumo de ananás fresco
1 dash de Grapefruit Bitter

MODO DE PREPARO

Adicione todos os ingredientes (exceto o bitter) ao Boston Shaker e complete com gelo. Agite a mistura e despeje em uma taça dupla para cocktail, utilizando a técnica strain. Depois, acrescente um dash de Grapefruit Bitter. Guarneça com um zest de laranja e um ramo de rosmaninho.

coqueteleira p

CLUBE DO BARMAN

Plataforma educacional sobre coquetelaria da Pernod Ricard Brasil. Aqui você encontra tudo o que precisa saber para ser tornar um bom profissional. Coquetelaria de qualidade, onde o que mais importa é a venda de produtos de alto padrão ao consumidor final e a opinião que vale é a do Mercado.

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