⍟ Que o berço do rum seja a região da América Central e Caribe, não há dúvidas. Porém, conforme a colonização europeia de cada país, diferentes estilos de rum nasceram e se mantém vívidos no paladar até hoje
Quando falamos sobre rum, é comum lembrarmos das ruas de Cuba, La Bodeguita del Medio e Mojitos refrescantes servidos no malecón próximo à praia. Porém, o universo do rum supera e muito o tamanho da ilha, porque é um produto popular em toda a América Central e Caribe, região colonizada por europeus das mais diversas nacionalidades: britânicos, franceses, espanhóis, holandeses. Cada um desses povos provocou impactos na produção de rum que reverberam até hoje na coquetelaria.
Mas antes de falar sobre tais impactos, é interessante relembrar os primórdios do rum para se atentar às particularidades deste destilado tão diversificado. O jornalista e pesquisador Wayne Curtis, estudioso do mundo das bebidas e colaborador da revista Imbibe, explorou as raízes do rum na coquetelaria e publicou os achados em seu livro ‘And a Bottle of Rum: a History of the New World in Ten Cocktails’. Segundo suas pesquisas, a bebida foi criada em Barbados, por volta do século XVII, a partir de subprodutos da indústria açucareira da região, que muitas vezes eram descartados.
A cultura da cana-de-açúcar no país foi introduzida pelo inglês James Drax e aprimorada por famílias holandesas. Ambos tinham uma coisa em comum: passaram pelo Brasil no século XVII, onde acumularam experiências no plantio da cana. Barbados tornou-se uma região de produção açucareira e, após os primeiros experimentos na produção da aguardente aprendida pelas viagens na América, o melaço de cana fermentado foi levado para solo inglês – onde ganhou o mundo.

Processos semelhantes aconteceram em outros países da mesma região, como Haiti, Jamaica, Panamá, Costa Rica, que receberam influências de outros países europeus, colocando sua própria identidade nos runs produzidos.
PRINCIPAIS ESTILOS DE RUM
Ao contrário de outros spirits que só podem ser fabricados em determinada região – como o scotch whisky e o cognac, por exemplo -, o rum é reconhecido por sua diversidade e produção global. Tanto que é comum encontrarmos denominações estrangeiras como ‘French rhum‘, English rum‘, e até mesmo ‘Brazlian rum‘, para referir-se à cachaça.
No entanto, ao analisarmos com mais atenção as regiões colonizadas por ingleses, franceses e espanhóis na América Central, é possível identificar grupos de runs semelhantes, seguindo escolas etílicas bastante semelhantes.
Estilo Inglês
É a mais antiga de todas, contemplando as marcas de rum produzidas em países de língua predominantemente inglesa, como Jamaica, Barbados e outras ilhas. É deste estilo de rum o rótulo mais antigo de que se tem registro: o rum Mount Gay, que começou a ser fabricado no ano de 1703.
Produzidos no Caribe e transportados por navios ingleses até a Europa, eles ganharam rapidamente o paladar internacional. Devido às incursões inglesas no Oriente, este estilo de rum tem forte presença de condimentos e especiarias de uma forma geral, o que o torna a melhor opção para receitas tiki.
Outra característica interessante é que sua destilação é feita especialmente em alambiques e tendem a usar o melaço de cana como ingrediente principal de sua produção.
Estilo Francês
No século XIX, quando Napoleão Bonaparte decidiu que o açúcar consumido na França deveria ser fabricado dentro do próprio país, suas colônias precisaram encontrar outra utilidade para a cana-de-açúcar. E assim nascia o ‘rhum‘, como é grafado em francês, também chamado de ‘rum agrícola’.
Surgido em países de colonização francesa como Haiti e Martinica, esse estilo de rum tem influência direta do terroir e traz sabores que lembram o da cachaça branca, com sabores um pouco mais herbáceos e frutados. Sua produção utiliza o suco de cana (ou garapa) fermentada, com destilação em colunas e envelhecimento em barris de carvalho francês.
É provável que você nunca tenha experimentado um rum tipicamente francês, e está tudo bem, uma vez que eles são menos acessíveis e menos utilizados na coquetelaria. Em restaurantes franceses, é comum encontrar punches à base deste rum ou o ‘rhum arrangé‘, uma bebida feita a partir da maceração da bebida com frutas, ervas e especiarias.

Estilo Espanhol
Talvez o estilo mais popular e aclamado na coquetelaria, o rum com raízes espanholas é também um dos mais jovens a serem produzidos no continente. A Coroa Espanhola proibia suas colônias de produzirem qualquer tipo de bebida alcoólica até meados de 1790, fazendo com que as primeiras fábricas só surgissem no século XIX em países como Costa Rica, Cuba, Venezuela, Guatemala e Panamá.
Sua produção tem o melaço de cana fermentado como o ingrediente principal, e a destilação pode ser feita em uma ou múltiplas colunas. O envelhecimento é feito em barris de carvalho, tanto no sistema de soleras quanto no sistema de barris individuais.
Um dos motivos por trás da popularidade do rum no estilo espanhol é a sua versatilidade. Com sabores mais suaves, florais e frutados, é facilmente combinado com cocktails.
A cachaça também é considerada um estilo de rum. Conheça as diferenças entre ela e o rum aqui.