Você já viu a Fada Verde? Conheça a história por trás do absinto

⍟ Vários mitos e lendas giram em torno do absinto, mas o que é verdade por trás disso tudo e, afinal, o que ele é, no fim das contas?

Banida no início do século passado em vários países por ter levado a fama de alucinógena, a bebida foi consumida por personalidades como Edgar Allan Poe, Charles Baudelaire, Van Gogh, Lord Byron e muitos outros símbolos de quebra de paradigma da época em que viveram. Queridinha dos boêmios, foi eliminada do mapa na onda proibicionista que assaltou a indústria de destilados, no século XX, e ressurgiu apenas às portas do século XXI. Reformulada? Sem a famosa fada verde? É o que veremos.

filosofo hipocrates
Hipócrates, considerado pai da Medicina

Há registros de que o absinto tenha sido consumido desde o antigo Egito, perpassando pela cultura Grega e a Idade Média, até chegar aos nossos dias. O que é preciso levar em conta nessa história é que, assim como muitas outras bebidas, o absinto surgiu com um propósito estritamente medicinal. O próprio ‘Pai da Medicina’, Hipócrates, receitava a Artemísia absinthum para curar os males da anemia, asma, reumatismo, dor de estômago e outras moléstias. Fato é que ainda na atualidade, uma boa banca de ervas vende absinto com estas mesmas finalidades, às vezes com seu outro nome: ‘losna’.

Os primeiros registros do uso do absinto de forma semelhante à que encontramos em nossos dias data apenas do século XVIII: uma base alcoólica com anis verde, funcho e absinto em solução alcoólica.

É verdade que ainda nessa época ele era apenas um elixir ‘para todos os males’, criado pelo médico francês Pierre Ordinaire enquanto vivia em Couvet, na Suíça. A receita do remédio foi vendida algumas vezes e passou de mão em mão até chegar a um certo Major Dubied, que com o auxílio de seus filhos abriu a primeira indústria de absinto, chamada Dubied Père et Fils. Um dos genros de Dubied, Henry-Louis Pernod, foi o responsável por fazer com que uma segunda indústria de absinto fosse criada, dessa vez na cidade de Pontarlier, na França. Esta companhia, fundada em 1805, recebeu o nome de Maison Pernod Fils e tornou-se uma das maiores produtoras da bebida, até que fosse banida do país, em 1914. O nome soa familiar?

Até sua proibição, o absinto era comercializado como um preventivo à malária, consumido de modo particular pelas tropas francesas enviadas para as guerras. Mas o paladar caiu no gosto da de todos e o aumento de produção da bebida tornou-a extremamente acessível, fazendo-a uma febre entre a população em geral, de modo que, por volta de 1860, na França, já era costume chamar o ‘Happy Hour’, que acontecia às 17h, de ‘L’heure Verte‘ (Hora Verde). Ali o absinto era bebido por todas as classes sociais em bistrôs, cafés e bares, chegando ao consumo absurdo de 36 milhões de litros apenas no ano de 1910 – superando em mais de sete vezes o consumo de vinho no mesmo período.

fábrica de absinto maison pernod fils
Foto tirada no antigo Maison Pernod Fils, em Pontarlier, na França

ABSINTO GANHA O MUNDO

A partir das duas primeiras fábricas e de outras menores que surgiram na França e Suíça, o absinto passou a ser exportado, no final do século XIX, para o mundo inteiro e, a estas alturas, já não era consumido apenas como elixir, mas como uma bebida alcoólica para fins recreativos em bares da Europa e América do Norte.

Foi nos Estados Unidos, inclusive, que teria surgido um dos primeiros cocktails que utilizavam o absinto: o Sazerac. Bares de New Orleans, como o Old Absinthe House Bar e o Absinthe Room, popularizaram a bebida, ainda mais porque eram frequentados por figuras ilustres como Mark Twain, Oscar Wilde e Frank Sinatra, que compunham a boemia da cidade ao lado de figuras mais exóticas como Aleister Crowley e até mesmo um dos presidentes dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt.

O problema é que o preço baixo fez com que o consumo excessivo se estabelecesse, não apenas em sua terra natal, mas também em todos os outros lugares onde se tornou tendência.

MITO 1: A ALUCINAÇÃO É CAUSADA PELA ERVA DO ABSINTO

planta artemisia absinto
Artemísia absinthum

A literatura produzida por muitos de seus consumidores (já citados acima, como Poe, Baudelaire e Lord Byron) foi uma das grandes responsáveis por se criar o mito da Fada Verde, que induzia as pessoas a acreditarem que o absinto era capaz de produzir efeitos alucinógenos. Também se disseminaram outros mitos envolvendo personalidades, como o de que Van Gogh teria cortado a própria orelha após um porre de absinto.

Estas histórias são atribuídas a um dos componentes químicos da artemísia absinthum, a tujona. Estudos apontam, contudo, que apenas quando consumida em doses elevadas é capaz de produzir efeitos prejudiciais à saúde, como espasmos e convulsões.

A ‘Fada Verde’, no entanto, quando consumida de forma excessiva, causa ebriedade, blackout alcoólico e até coma alcoólico – mas por causa do asbsinto mesmo, a tal fada não deu as caras até o momento. Mais adiante veremos que um outro fator pode ter sido responsável por casos isolados de alucinações.

MITO 2: A ALUCINAÇÃO É CAUSADA PELO TEOR ALCOÓLICO

É verdade que o absinto é uma bebida com alto teor alcoólico. O suíço normalmente possui entre 68% e 72% de álcool, o demi possui entre 50% e 68% e o francês, entre 45% e 50%. Isto não significa que, no decorrer da história, esta alta graduação tenha sido responsável por alucinações. Isso porque desde que se tornou popular, o absinto passou a ser servido de uma forma bastante peculiar que reduz bastante sua porcentagem de álcool.

MODO DE SERVIR O ABSINTO

absinto no Ritual à la française
Ritual à la française

Os bares de absinto, desde o século XIX, passaram a adotar um equipamento utilizado no serviço, que consiste em uma coluna com torneiras de água.

Para servir absinto, é colocada uma pequena dose em um copo. Em seguida, é colocada a colher para absinto sobre o copo e em cima dela um torrão de açúcar. Sobre este torrão de açúcar, um gotejar de água constante é responsável pelo derretimento do torrão e a solução da bebida em água.

Deste modo, uma dose de absinto chega à graduação alcoólica próxima a de um vinho. O volume de absinto ingerido, então, para o consumo de grande quantidade de álcool, seria semelhante ao de alguém que consome vinho, diminuindo o punch alcoólico e o as possibilidades de embriaguez.

A COR VERDE

Como já dito, os três principais ingredientes do absinto são o absinto propriamente dito (arthemisia absinthum ou losna), o anis verde e o funcho. Outros ingredientes também costumam ser infusionados no álcool, como anis estrelado e ingredientes frescos como hissopo, melissa, angélica, hortelã-pimenta, coentro e verônica. Destes, além de atributos de sabor, também provém a cor, conferida pela clorofila presente em suas composições.

Uma visita da fada verde no fim da noite. (“O bebedor de absinto”, de Viktor Oliva)

VERDE TÓXICO E ALUCINÓGENO

Alguns produtores no final do século XIX omitiam a infusão de botânicos dotados de clorofila e adicionavam sulfato de cobre anidro à bebida, a fim de torná-la verde. Isto sim, provavelmente, tenha sido responsável por alterações de estado de consciência severos, alucinações e intoxicações, mas não era uma prática generalizada e sempre foi mal vista entre os produtores de absinto.

Atualmente, alguns absintos mais baratos são aditivados com corantes alimentícios. É possível também encontrar algumas marcas de absinto rosa e vermelho. Estas colorações são conferidas pela infusão de rosas ou hibisco antes da última destilação.

EFEITO OUZO OU LOUCH

Quando é adicionada água ao absinto, a bebida se torna opaca – fenômeno que leva o nome de efeito ouzo ou louch. Isto se deve à presença dos óleos essenciais das plantas na composição do absinto. Como estes óleos são hidrofóbicos, ou seja, não se dissolvem com facilidade na água, microbolhas são formadas, conferindo aparência turva à mistura. Este efeito, contudo, é delicado e acaba se desfazendo ou tornando-se mais sutil quando o líquido é misturado ou agitado.

Este fenômeno também pode ser observado em outras bebidas, como o arak (árabe), pastis (francês), sambuca (italiano) e ouzo (grego). Use a favor da apresentação, adicionando a água na frente do cliente que nunca bebeu absinto e receba um ‘uau’ como resposta.

Antes do banimento do absinto, produtores pouco escrupulosos adicionavam tricloreto de antimônio à composição para provocar o mesmo efeito, o que também arrebentava com a saúde das pessoas.

Felizmente esta prática não é mais adotada.

drink sazarac

Sazerac

INGREDIENTES

50 ml de rye whiskey
20 ml de Pernod
2  dashes de Peychaud’s bitters
1 cubo de açúcar
Cubo grande de gelo

MODO DE PREPARO

Complete um copo baixo com gelo e reserve. Em outro copo, macere  cubo de açúcar, bitters, adicione o whiskey, cubos de gelo e misture com uma colher bailarina até resfriar completamente o sistema.

Retire o gelo do primeiro copo, adicione o absinto, coe para o copo e guarneça com um zest de limão siciliano.

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