Inspiração feminina na coquetelaria brasileira

⍟ Dentro e fora do Brasil, no passado e no presente, a coquetelaria tem sido permeada por mulheres que inspiram e criam cocktails cada vez mais inovadores

Publicado em 8 de março de 2018, às 16h40.

Ada Coleman marcou a história da coquetelaria com a criação do drink Hanky Panky, em 1903. Na época, a primeira barwoman a assumir o cargo de head bartender do American Bar, no Hotel Savoy, em Londres, abriu caminhos para que milhares de mulheres também buscassem seus lugares nos balcões ao redor do mundo.

No início do século XX, afirma-se que não era incomum encontrar mulheres atrás das barras dos hotéis e restaurantes mais luxuosos de Londres. Era o tipo de trabalho a que recorriam as filhas de famílias mais abastadas da capital inglesa que precisavam de algum dinheiro. Com o requinte e conhecimento dos bons sabores, elas conseguiam faturar mais com o trabalho de bartender do que com outras ocupações.

Mas Ada não foi a única mulher a ocupar o balcão do American Bar naquela época. Ruth Burgess foi sua contemporânea menos bem sucedida por não ter emplacado um drink tão atemporal quanto o Hanky Panky.

COQUETELARIA CONTEMPORÂNEA

Entre momentos mais e menos obscuros da história da coquetelaria, outras barwomen também imprimiram seus nomes na história. Nos anos 80, Cheryl Cook cravou a receita do clássico e adocicado Cosmopolitan. Muito embora outras receitas semelhantes fossem conhecidas desde 1933, ela foi a responsável por nomear a mistura de Absolut Citron, triple sec, suco de limão e suco de cranberry e popularizá-la da Flórida para o resto do mundo.

Mais recentemente, com retomada da febre de bares especializados em coquetelaria, as mulheres tem conseguido cada vez mais espaço nos balcões não somente no exterior, mas também desbravando as mais diversas regiões do Brasil. Cada uma com uma história de amor e trajetória singular pelo mundo do bar.

MULHERES QUE INSPIRAM

Em entrevista recente, a mixologista Jessica Sanchez reforçou a admiração e gratidão pela bartender Talita Simões. Foi ela que reconheceu o potencial de Jessica e ofereceu-lhe uma série de oportunidades, a primeira delas atrás da barra do The Sailor Legendary Pub, em São Paulo.  “Ela me ensinou a base de tudo que eu sei. Depois do pub, fui para outro restaurante que ela também estava trabalhando”, disse.

Jey Silva - Foto: Aline More
Jey Silva é de Porto Alegre e foi uma das finalistas do MIXLDN7 (Foto: Aline More/Cedida por Jey Silva)

Jessica, que se inspirou em Talita, também foi a inspiração da bartender Jey Silva. Ela começou na rotina de bar em 2013, época em que era atendente de uma casa pequena em Porto Alegre. De tanto observar os movimentos do barman, conseguiu substituí-lo por uma noite, quando estava ausente. Em um mês, ela era a mais nova bartender da casa.

Há cinco anos, a capital tinha um único bar especializado em coquetelaria. Após acumular experiência e estudos, Jey entregou currículo diversas vezes para este bar, mas nunca conseguia uma vaga de bartender, apenas de atendente. A segunda oportunidade surgiu somente quando um amigo assumiu a gerência de uma balada e, então, pode se aprofundar na profissão.

“Como não via quase nenhuma mulher em evidência nessa área,  pensava que talvez tivesse escolhido tudo errado, que talvez eu devesse tentar algo na gastronomia. Estava quase desistindo”, afirma. Em pesquisas na internet sobre referências femininas na coquetelaria, encontrou o exemplo de Jessica Sanchez e participou de um workshop ministrado por ela em Porto Alegre.

“Resolvi que eu não tinha como abandonar o que fazia, e que era possível fazer isso aqui (no Sul) também. E isso deu aquela esperança de poder fazer o que eu queria, que era lidar com tudo que a bebida proporcionava”, relembra.

Jey Silva - Foto: Aline More
Jey Silva começou sua carreira trabalhando em baladas de Porto Alegre (Foto: Aline More/Cedida por Jey Silva)

Trabalhando na mesma balada e em outros bares durante o dia, Jey tinha conhecidos no ramo de bares e restaurantes. Um dia foi chamada para criar o menu de um novo bar inspirado nos filmes de Wes Anderson. Cardápio após cardápio, a bartender ficou conhecida na cidade e isso abriu as portas para que trabalhasse em mais três casas.

“Eu passei por dois bares temáticos: o Quentins (inspirado em filmes do Tarantino) e o Von Teese, com temática burlesca”, explica. “As donas do Von Teese são duas mulheres incríveis que acreditaram muito no meu trabalho e me deixando livre para criar”.

Enquanto estava no Von Teese, um dos donos do Kamão – bar em que trabalha atualmente – a convidou para integrar o bar da casa, ao lado dele.

Jey avalia que hoje há muito mais bares especializados em cocktails e mulheres atrás de seus balcões do que quando começou sua carreira. “Para mim isso é um avanço. Afinal, nada mais justo do que estarmos em todos os lugares”.

mi señor - jey silva - foto: Aline More
(Foto: Aline More/Cedida por Jey Silva)

Mi Señor

(por Jey Silva)

INGREDIENTES

50 ml de Rum Havana Club 7 Años
20 ml de vermouth de Quina
15 ml licor de whisky
Pele de laranja bahia

MODO DE PREPARO

Em um mixing glass com gelo, misture todos os ingredientes líquidos por dez segundos. Em seguida, coe a bebida para um copo baixo com um cubo de gelo translúcido. Por fim, guarneça com um twist e uma rodela de laranja bahia.

MUDANÇA DE PALCO

Há oito anos trabalhando com coquetelaria, a história de Alice Guedes começou no Rio de Janeiro de uma maneira um pouco diferente. Antes de ser bartender, ela trabalhava como atriz e decidiu trocar o palco dos teatros pelo do bar após viajar com seus colegas para São Paulo e ver uma cena impossível de esquecer.

“Fomos a um bar e tinha uma única menina atrás do balcão. Ela fazia o básico, mas dava conta de tudo”, lembra. Ela sabia que era aquilo que queria fazer quando voltasse ao Rio. De um trabalho para ganhar um dinheiro extra, a coquetelaria passou a ser sua atividade diária.

Alice estudou, fez cursos na área e entrou no bar como todo mundo: com vontade de absorver todo o conhecimento possível. Mas, logo de cara, percebeu que o mercado não estava preparado para receber as mulheres como deveria. “Já passei por situações constrangedoras, em que me pediam para sensualizar ou para abrir o botão da blusa”, recorda. “A verdade é que eu só queria fazer o que aprendi nos meus cursos”.

Alice Guedes - Foto: Rodrigo Azevedo
Alice Guedes está atrás do balcão do Guarita Bar desde 2016 (Foto: Rodrigo Azevedo/Cedida por Alice Guedes)

Depois de alguns anos na capital fluminense, quando passou por casas como o Meza Bar e Nola, ela decidiu buscar novos horizontes. Entrou em contato com Tato Giovannoni – mixologista argentino que nos últimos anos teve uma passagem próspera pelo Brasil – para pedir indicações de um bom bar para trabalhar em Buenos Aires. A resposta dele foi direta: “O único bar em que você vai trabalhar é o Florería Atlantico”, relembra. O bar foi eleito o 23º melhor no mundo no The World’s 50 Best Bars do ano passado.

A experiência no Florería Atlantico agregou muito valor à sua profissão e seria indispensável para o que viria a seguir. Foi quando, há quase dois anos, recebeu uma ligação de Jean Ponce, bartender e proprietário do Guarita Bar, em Pinheiros.

“Aceitei porque sabia que seria feliz no Guarita”, afirma. E está sendo. No bar, divide o trabalho apenas com colegas homens e enfrenta com vigor e respeito alguns problemas do dia a dia. “Em toda a minha carreira de bartender, só dividi a barra com mulheres duas vezes. No passado, já levei empurrões atrás do balcão por guerra de egos, o cliente pedia drinks para o barback e para mim, refrigerantes”, reflete.

“Se não me imponho, não chego onde tenho que chegar. Hoje não tenho mais problemas com isso”, finaliza.

Alice reconhece que a presença feminina é cada vez mais forte e capacitada nos balcões brasileiros. “A verdade é que a rotina de bar não é fácil pra ninguém. Gosto de dar força às mulheres que estão começando nesta jornada. Tento confortar essas garotas, muitas já choraram no meu ombro por causa disso. Temos que seguir firmes”.

Chá da Alice - Alice Guedes - Foto: Tales Shiosawa
(Foto: Tales Shiosawa/Cedida por Alice Guedes)

Chá da Alice

(por Alice Guedes)

INGREDIENTES

60 ml de Beefeater London Dry Gin infusionado com lavanda, camomila e rosas
30 ml de mix de limões
15 ml de xarope de hibisco
7 ml de licor marrasquino
Clara de ovo pasteurizada
Peychaud’s Bitters  

MODO DE PREPARO

Agite todos os ingredientes numa coqueteleira sem gelo. Adicione gelo e agite novamente. Faça uma coagem dupla para uma xícara de chá, perfume com uma casca de limão siciliano e finalize guarnecendo com flores.

 

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