⍟ Em um momento em que o gin é o grande spirit em ascensão, o mixologista Tai Barbin aposta em drinks que exploram as nuances do rum para encantar os amantes de uma boa bebida
Publicado em 21 de junho de 2018, às 15 horas.
Um balcão com 36 tipos de rum, de 14 nacionalidades diferentes. Para provar que o destilado do melaço de cana de açúcar é muito mais rico do que se pensa, o NOSSO – mix de bar de coquetelaria e lounge de comida casual – usa e abusa de cocktails em que ele é a estrela principal. Em funcionamento há pouco mais de um ano e meio em Ipanema, Rio de Janeiro, a casa é comandada por uma dupla que não segue tendências, mas faz questão de criá-las: Tai Barbin, mixologista, e Bruno Katz, chef de cozinha.
“Eu sou apaixonado por rum desde que eu bebi pela primeira vez”, relembra Barbin. O chef e de bar da casa começou sua carreira na área muito longe do Rio de Janeiro. Nascido em São Paulo, ele estudou gastronomia e hospitalidade na Universidade TAFE Queensland, na Austrália, trabalhou em cassinos e resorts de luxo, abriu o próprio negócio no exterior e viajou pelos Estados Unidos em busca de referências na coquetelaria – sua grande paixão. “Na Austrália, eu vi uma diversidade de runs muito grande, que eu nunca tinha visto antes. Desde então, coloquei na minha cabeça que eu queria abrir um bar que realmente tivesse a minha cara”.
E não se pode definir a barra do NOSSO de outra maneira. Localizada no piso térreo da casa, ela tem um pé direito alto, em que as centenas de garrafas do mundo todo estão dispostas em prateleiras. Para buscá-las, o bar conta com uma escada que muito lembra as utilizadas em bibliotecas antigas.
O bar é colorido, e a música, animada. A casa ainda tem um mezanino tranquilo e uma espécie de rooftop despojado, onde há apresentações de música brasileira e jazz. Mesmo assim, de acordo com o mixologista, muitos pensavam que o empreendimento não daria certo. “Somos o primeiro bar especializado em rum no Brasil. Muitos pensavam que nós iríamos falir. Foi um coisa de louco!”.
NOSSO: NA TRILHA DO RUM
Há poucas semanas, Tai Barbin e o grupo de bartenders da casa lançaram uma nova carta de bebidas. Que o rum é protagonista, não há dúvidas, mas a grande novidade está na revisitação de alguns acontecimentos históricos que ajudam a contar sobre a trajetória da bebida.
Para o chef de bar, é importante mostrar ao grande público que o rum, apesar de parecer bastante tropical e jovem, é mais antigo do que se imagina. “Queremos contar, através das bebidas, de onde vem essa história fascinante do rum, as negociações, as grandes navegações, alguns assuntos que não abordamos na primeira carta”, afirmou.
Segundo ele, para se contar a história do rum, é preciso lembrar do seu produto primário, a quase milenar cana de açúcar. Conta-se que seu berço está na Oceania, mais precisamente na Papua Nova Guiné. Aliás, o país dá nome a um dos drinks da carta, o P.N.G, feito com rum branco, bourbon whiskey, camomila, limão siciliano, aroeira, maracujá gaseificado.
As referências da carta vão de Alexandre, O Grande a Fidel Castro, passando pela época colonial dos Estados Unidos. Esta última, por exemplo, colocou o bourbon como bebida favorita dos colonos após a promulgação da Lei do Açúcar pelo Parlamento Inglês. Ela aumentou os impostos sobre o açúcar, matéria prima da bebida muito apreciada pelos ingleses. O aumento tinha como objetivo acabar com o contrabando e proteger os agricultores do colonizador.
“Foi um acontecimento importante porque as destilarias começaram a pagar muito caro pelo ingrediente, deixando o rum até 300 vezes mais caro. Isso oficializou o bourbon como monocultura dos Estados Unidos, fazendo o rum desaparecer”, explicou.
Também fazem parte da carta outras criações como o Freeman (rum branco, banana, cítrico e bitters), Bishop Eggnog (rum envelhecido, licor de café, geléia de laranja, orgeat e ovo), Protagonista Ilegal (blend de runs, bourbon, luxardo, triple sec, limão siciliano e bitters), entre outros.
PARA TODOS OS PALADARES
Embora a carta do NOSSO tenha 80% dos drinks à base de rum, há também outras opções com gin, whiskey, vinho do porto e cachaça, para agradar os demais paladares. Assim como o restante da carta, os cocktails feitos com outros spirits também seguem a linha proposta pela casa e ajudam a contar a história do destilado.
O Dead Man’s Chest, por exemplo, faz alusão à época das navegações e dos piratas – tempo muito popularizado e associado com o rum. Ele leva whiskey, amaro, luxardo e vermute seco.
Já o Ralph Capone é uma referência ao irmão do líder da máfia italiana, Al Capone. Diferente de seu irmão, que ficou famoso por contrabandear bebidas alcoólicas durante a Lei Seca americana, seu crime foi estar por trás do monopólio de bebidas gaseificadas, como sodas e ginger ale, geralmente utilizadas nos cocktails da época. Mas a homenagem a este personagem não está relacionada com sua vida de crimes: Ralph ficou famoso pelo lobby para a aprovação de uma lei que obrigava as indústrias de laticínios a carimbarem na garrafa a data de envase do leite. O drink leva bourbon whiskey, baunilha, leite, creme de leite e noz-moscada.
Outros cocktails que também estão fora da lista do rum são: George Washington Smash, Fake Rum e Sertão Vai Virar Mar – este último feito com uma mistura de cachaça, gin e absinto como principais bases alcoólicas.
OUTRAS EXPERIÊNCIAS
Assim como os whiskies, os runs também são excelentes quando usados em drinks envelhecidos. O bar costuma ter uma seleção de duas receitas fixas e outras sazonais. No momento, as opções envelhecidas são os drinks O Pensador e o NOSSO Old Fashioned.
O balcão também oferece sete cocktails clássicos, além de vinhos e cervejas. Para acompanhar, burratas, ceviches, ostras, tartares, peixes, pães e doces variados preparados pelo chef Bruno Katz, premiado recentemente na categoria ‘Chef Revelação’, do Prêmio Melhores do Ano, concedido pela Revista Prazeres da Mesa.
Ainda neste mês, o NOSSO realizará sua primeira degustação de runs. A ideia, segundo Tai Barbin, surgiu do crescimento da demanda de pessoas apaixonadas pelo sabor da bebida e que querem aprender mais sobre ela. “O rum é uma bebida tão diversificada quanto o gin, então essa é uma oportunidade das pessoas conheceram mais sobre elas e se surpreenderem”, afirmou.
A primeira edição da degustação já está com as vagas esgotadas. A ideia, segundo ele, é que os eventos sejam mensais. Mais informações estão disponíveis no site da casa.
NOSSO
Endereço: Rua Maria Quitéria, 91, Ipanema, Rio de Janeiro.
Horário de funcionamento: de terça a quinta-feira das 19h à 1h; sextas e sábados, das 19h às 2h; e domingo das 18h às 23h.
Telefone: (21) 99619-0099
Reservas: reservas@nossoipanema.com
Site: https://www.nossoipanema.com/