⍟ Barman internacional, fez importante trabalho em prol da coquetelaria na região da Baixada Santista, criou dezenas de coquetéis durante sua carreira e foi figura marcante na formação de muitos profissionais de bar
Publicada em 16 de fevereiro de 2017, às 16h.
Faleceu na última terça-feira (14), aos 75 anos, um dos bartenders mais antigos do Brasil, Wilson José Moreira de Almeida. Profissional de importância internacional, ele começou a carreira por acaso, em 1962, quando a coquetelaria profissional ainda engatinhava no país. Ele trabalhava lavando pratos em uma cantina na capital paulista quando foi chamado inesperadamente para assumir a bancada do bar, já que o bartender da casa não havia aparecido para trabalhar. Daí em diante, se apaixonou pela profissão.
Barman à moda antiga, Wilson se destacava pela gentileza e pelo sorriso fácil. Habilidoso e criativo, defendia que o trabalho dos bartenders extrapolava o simples preparo de coquetéis. Muito além disso, ele deveria ser uma figura amiga dos fregueses, dispostos a conversar, ouvir confidências e manter a discrição necessária à profissão – como um verdadeiro gentleman.
Na Baixada Santista, fez carreira como chefe de bar no Iate Clube de Santos, Holiday Inn Santos, Guarujá Inn e Restaurante Cibus. Fora do litoral paulista, também trabalhou no Hotel Eldorado, na cidade de São José dos Campos e no Club Mediterraneé, na Bahia.
Ainda nos anos 80, Wilson foi responsável por fundar a Associação Brasileira de Barmen (ABB), subseção Santos, única da categoria na região. Também ministrou cursos para profissionais de bar no Senac. Sempre disposto a ajudar, ouvir e apoiar os bartenders mais jovens, ele ajudou a profissionalizar a categoria, que era limitada na região, formando, entre muitos alunos, o mixologista Rogério Rabbit.
“Ele foi um amigão, um conselheiro, sempre sorrindo disposto a ajudar quem precisasse, assim como eu – ainda com 15 para 16 anos- a encontrar um caminho”, escreveu Rabbit em uma homenagem nas redes sociais. “Ele foi um paizão para muitos”, completou.
O mixologista e consultor Bruno Caldeira Mendes, da Mixxo Drinks, também foi aluno do barman. “Uma grande perda, um grande homem e um dos nomes mais importantes da região, ajudou como ninguém a coquetelaria da Baixada Santista”, disse.
Para o bartender Orides Sousa, Wilson foi um grande amigo e baluarte da ABB. “Fica a eterna lembrança de uma personalidade magnética e exemplo para todos aqueles que o conheceram e com ele aprenderam”.
CRIATIVIDADE E INFORMAÇÃO PARA DRINKS E ATENDIMENTO IMPECÁVEIS
Acredita-se que durante sua trajetória profissional de quatro décadas, Wilson tenha criado bem mais de 50 drinks. Além de preparar coquetéis tradicionais e vencer campeonatos internacionais de barmen, ele buscava sempre novas misturas para suas criações.
Como um verdadeiro “mago” da coquetelaria, não revelava alguns segredos de seus drinks, como era o caso do Halley – uma bebida flambada guarnecida com uma estrela de abacaxi. Para ele, um barman devia ser criativo, mas também saber todos os detalhes para a preparação de um bom coquetel. Além disso, ser bem informado para acolher os clientes com uma boa conversa e ter paciência lidar com o perfil de cada um é algo importante. “Afinal, ele, estando no bar, é um cartão de visita da casa”.
Entre muitos ensinamentos, o bom atendimento e profissionalismo são seus principais legados. A coquetelaria se despede de Wilson, mas com a certeza de que ele continuará presente em muitos balcões espalhados Brasil afora, na pessoa de cada profissional que teve sua trajetória marcada por suas lições.