⍟ Os precursores e atuais representantes do flair bartending garantem: há cada vez mais espaço para a técnica, mesmo em uma era em que ferramentas, ingredientes e mixologia também estão em alta.
Entreter clientes manipulando garrafas e apetrechos de bar enquanto se faz um coquetel é uma prática iniciada no século XIX. É desta época que se tem notícia do barman nova-iorquino Jerry Thomas, mais conhecido como “O Professor”, que inventou uma performance acrobática para incrementar a preparação do Blue Blazer, um drink à base de whisky.
A excelência dos seus movimentos combinada ao sabor da bebida tornou seu nome conhecido em todo território americano, transformando-o em um dos principais divulgadores da coquetelaria naquele país.
A experiência bem-sucedida do Professor chamou a atenção dos donos de bares, que passaram a buscar barmen talentosos o suficiente para repeti-la.
O intuito era usar isso como chamariz para divulgar o lançamento de uma determinada bebida ou mesmo a inauguração de algum estabelecimento. Não tardou para que a tendência ganhasse adeptos também na Europa, já no século XX. Assim se estabelecia o flair (que em português significa “dom”), ao ponto do termo se tornar o mais comum designar qualquer truque ou artifício utilizado pelos bartenders diante do balcão. Inicialmente associado a malabarismos, passou a incorporar também elementos de ilusionismo em apresentações mais elaboradas.
Na era moderna, a técnica ganhou outro impulso novamente em Nova York, com a expansão da rede de bares TGI Fridays, responsável pela organização do primeiro torneio de flair da história, o The Bar Olympics, realizado em 1986 e que teve como vencedor o norte-americano John Bandy.
“Depois da gravação de Cocktail, fui convidado a fazer uma turnê mundial de exibição, durante oito anos passei por 30 países apresentando o flair. Foram os melhores da minha vida”, contou Bandy.
Em 1997, foi fundada a Flair Bartenders Association, que em alguns anos atingiu a impressionante marca de 10 mil membros, de mais de 200 países.
TOP FIVE
Pedimos ao barman Sylas Rocha que destacasse cinco flair bartenders que marcaram a cena internacional. Eis a respeitável lista:
CRESCIMENTO NACIONAL
É nesta época também que o movimento ganha força no Brasil. Além de tornar mais encantadora a experiência dos clientes no bares brasileiros, o flair ajudou a profissão de barman a crescer por aqui, como lembra Sylas Rocha, um dos sócios da extinta Flair Brasil, equipe de competição de flair bartenders formada em São Paulo, no ano 2000.
“Os bartenders passaram a ser vistos de outra forma, como profissionais diferenciados, uma parte importante do bar. Assim adquiriram espaço no mercado e na mídia”, recorda.
Para André Bueno, ex-aluno e atual sócio da Barones (antiga Bertones), uma das empresas pioneiras nos cursos de formação para flair em São Paulo, tal mudança de reputação foi fundamental no aumento da procura por escolas especializadas.
“Grandes nomes do flair nacional surgiram em nossas turmas, como o Rafael Andrade (Bob Flair), o Michell Aguess e o Diogo Vrissis. Mas costumo dizer que o bartender deve ser completo e dominar não só o flair como a coquetelaria e a mixologia, absorvendo diversas técnicas. Prova disso é que também formamos excelentes mixologistas, entre os quais Spencer Amereno, Zulú e Jéssica Sanchez”, avalia.
A opinião é compartilhada por Sylas Rocha. Ele pondera que hoje se procura por bons profissionais acima de tudo e considera o flair bartending um atrativo a mais para quem busca ser completo na profissão. “Hoje quem opta pelo flair não é visto como melhor ou pior, mas o mercado está em constante transformação e também é preciso também saber a história de um bom coquetel, por exemplo”.
DESTAQUES BRASILEIROS
EM BUSCA DA CONSAGRAÇÃO
A presença de brasileiros nos principais campeonatos de flair do mundo, rivalizando até com norte-americanos e argentinos, era outro indício da força do movimento que se consolidava no país.
O ápice desta fase ocorreu em 2005, quando Diego Dillon venceu em Londres a competição Roadhouse, considerada a mais importante da modalidade, conquistando o primeiro título mundial de flair para o Brasil. Uma vitória que deixou a comunidade global do flair atônita, já que o jovem bartender disputava o torneio pela primeira vez e superou grandes mestres.
Agora, quem tenta seguir os passos de Dillon é Michell Agues, classificado para a final de outro dos mais prestigiosos torneios disputados no continente europeu: o Lolapaloosa Flair Championship, em Milão, Itália. (N. E.: A disputa aconteceu em 25 de novembro de 2015)
“Será um grande desafio, mas tenho me preparado há tempos para isso, treinando pelo menos seis horas por dia e obedecendo a alimentação e horários regrados”, conta Agues. Além da originalidade e da precisão de seus movimentos, ele pretende conquistar o júri e criar uma empatia maior com a plateia utilizando a música brasileira como trilha para sua apresentação. “Nosso carisma é um diferencial em relação aos competidores estrangeiros e a capacidade de envolver o público é muito levada em consideração”, anima-se.