⍟ Há pouco mais de um ano em atividade, o gastrobar comandado por Jessica Sanchez prova que a versatilidade é peça-chave da boa coquetelaria
Publicado em 29 de março de 2018, às 17h.
De sommelier a copeira, de copeira a bartender, de bartender a dona de seu próprio negócio. Em novembro de 2016, após anos de carreira atrás de barras de São Paulo, Rio de Janeiro e de uma enriquecedora viagem pela Europa, Jessica Sanchez inaugurou aquele que seria o primeiro grande empreendimento ‘para chamar de seu’: o Vizinho Gastrobar.
Se a trajetória profissional da bartender provou que a hospitalidade é um dos aspectos mais importantes da coquetelaria, o Vizinho elevou esta características a outro nível: o bar pretende ser muito mais do que apenas prateleiras repletas de spirits, insumos e copos, mas um lugar onde o cliente também possa se sentir em casa.
Para Jessica, o Vizinho é aquele que está perto o suficiente para ser íntimo e fazer você se sentir à vontade para pedir uma xícara de açúcar emprestado. Mas, ao mesmo tempo, é aquela pessoa distante o suficiente para não se intrometer na sua vida. O vizinho ouve suas reclamações, suas brigas, suas risadas e sabe de suas dores, mas finge que não. Essa definição é familiar para você, barman?
TOQUE REFRESCANTE
Os cocktails servidos no balcão de Jessica têm como base a vizinhança onde o bar está inserido: Barra da Tijuca, Zona Sul do Rio de Janeiro. Ponto turístico, localizado na importante Avenida das Américas e parte do complexo do Shopping-conceito Vogue Square, o menu reflete a diversidade, o clima tropical e atmosfera leve carioca.
Por isso, pense duas vezes antes de em sentar-se à barra do Vizinho e pedir um Negroni, por exemplo. “O que faz com que a gente consuma um produto específico é o clima. No Rio come-se muita salada e comida fresca por causa do clima”, explica. “Já em São Paulo, os sabores são mais fechados porque os bares recebem mais turistas a negócios, americanos, europeus e londrinos. São Paulo permite tomar um Negroni numa tarde de chuva, aqui não”.
“No Rio de Janeiro, os turistas querem conhecer nossos produtos locais, sentar na praia, tomar um Mojito, uma Caipirinha. Eu queria criar coisas neste sentido e que não fossem apenas mais do mesmo. Criamos drinks mais leves e cítricos para acompanhar o que o turista daqui procura”, finaliza.
VIZINHO GASTROBAR: EM FAMÍLIA
A ideia é que toda a equipe da casa fosse formada por bartenders que soubessem receber bem os clientes, acomodá-los, explicar-lhes o funcionamento do bar e tirar as dúvidas sobre as bebidas. Tudo precisava ser perfeito. Por isso, Jessica contratou e treinou a brigada do zero por cerca de três meses. Assim, os seis funcionários – mulheres são maioria – dominam todas as fases do atendimento.
“Eu queria que todos os clientes fossem bem recebidos e se sentissem parte do negócio, como em uma família”, afirma. “Colocamos preço fixo nos drinks para que as pessoas não se incomodem em escolher e testar novos sabores. Nós queremos trazer boas experiências de bar e não temos a pretensão de alta coquetelaria”, completa a proprietária.
Para beliscar, o Vizinho dispõe também de um menu com tartares, sanduíches, ostras, hambúrgueres e outros petiscos alinhados com a proposta hospitaleira da casa.
CARTA VERSÁTIL
Uma das características que tornam o Vizinho um bar ‘fora da curva’ é a ausência de um cardápio de cocktails bem definido. Pelo preço fixo de R$ 29,00, o cliente pode conversar com o bartender, explicar o que deseja tomar e receber um drink personalizado. Se preferir, também pode pedir alguma das sugestões da casa ou optar por um clássico bem executado.
“Mesmo a gente fazendo muitas coisas diferentes, um dos drinks que mais saem é o Moscow Mule. Ele economiza nosso tempo quando o bar está cheio”, explica. Hoje, mais de 70% dos cocktails vendidos no bar são fruto das sugestões dos barmen, segundo Jessica.
A hospitalidade está por todos os lugares. Pensando naqueles que, assim como ela, já passaram por épocas em que não podiam consumir bebida alcoólica, o bar conta com uma série de drinks sem álcool.
“Quando estava grávida fiquei quase dois anos sem poder beber e eu buscava cocktails sem álcool, mas não encontrava nada complexo nos bares, nada que tivesse um teor amargo que me lembrasse um drink de verdade”, recorda. “Eu sentia falta disso e, quando abrimos o bar, vimos que ter isso é importante, pois somos um espaço bastante familiar”.
De acordo com Jessica, cocktails sem álcool são interessantes para que todos possam degustar sabores intensos, diferentes e curtir o momento no Vizinho junto dos amigos.
POTÊNCIA DOS SABORES
O Vizinho goza de uma variedade de sabores, tanto nas frutas, quanto em suas prateleiras do bar. Para um lugar capaz de produzir tantos drinks diferentes em uma única noite, trabalhar com frutas in natura pode ser um risco – de desperdício de ingredientes e dinheiro para a casa.
Por isso, a produção de insumos é intensa. “Nós fazemos cerca de 30 xaropes diferentes, shrubs, reduções, marmeladas, espumas, entre outros. Ao invés das frutas, trabalhamos com suas potências de sabor para que tenham a maior naturalidade e frescor possível”, diz. A variedade também é lei entre os destilados – o Vizinho conta com cerca de 30 tipos de gins e dez single malts. “Eu procuro ter muitos licores e bebidas diferentes, trago coisas do exterior que não temos por aqui para podermos criar sempre mais”.
A head bartender e proprietária da casa divide conosco a receita completa do drink Don’t Kill My Vibe, que está na carta fixa do Vizinho. É sugerido para os amantes dos amargos que, mesmo na praia ou em dias mais quentes, não abrem mão dos bitters. Deixem os amargos em paz!