⍟ Criado em 2006 com o propósito de capacitar e profissionalizar a classe dos bartenders, plataforma ganhou corpo e hoje se desmembra em uma série de ações que levam a coquetelaria brasileira a outro patamar.
N ão é exagero dizer que há exatos dez anos os horizontes da mixologia brasileira começaram a se expandir. Surgia o Clube do Barman, trazendo mais perspectivas para a formação de novos profissionais, mais acesso à informação e um aumento efetivo de oportunidades de mercado. O ano era 2006. “Era preciso criar uma referência para a classe e muitos não acreditavam que isso seria possível”, comenta James Guimarães, mixologista da Pernod Ricard Brasil. A persistência, felizmente, valeu a pena: ao lado de Lelo Forti, então embaixador de Absolut Vodka, ele idealizou uma plataforma interna para atuar no treinamento e aperfeiçoamento de equipes de bar por todo país. Nascia o Clube do Barman.
A ideia, na visão de Lelo, foi revolucionária: “Reunir em estabelecimentos parceiros os profissionais de bar para levar conhecimento igualitário a todos os envolvidos era inovador. Minha missão era fazer com que eles entendessem a importância do estudo, do intercâmbio. Dez anos depois, vemos que os principais barmen da atualidade nasceram no Clube do Barman. Foi a semente”.
Surgida sob a chancela de Absolut, a iniciativa foi encampada pela multinacional francesa dois anos depois. “A chegada da Pernod Ricard, que entendeu a relevância do tema, forneceu todas as ferramentas necessárias para a continuidade e consolidação da célula”, completa Forti.
Os primeiros anos foram difíceis, experimentais, mas as necessidades foram aos poucos sendo identificadas e, com os ajustes, o Clube do Barman se tornou referência. Como resume Luiz Pagano, responsável pela educação de marca da Pernod Ricard: “A principal conquista, inicialmente, foi fornecer a base necessária para o fortalecimento da categoria dos barmen, algo que algumas entidades tentaram anteriormente, mas não conseguiram pela falta de estrutura e recursos. Começamos a profissionalizar de fato a classe”.
Cada vez mais concorridos, os workshops e palestras itinerantes sobre técnicas, conceitos e tendências de mercado deram corpo e respaldo ao Clube.
A efervescência deste período é atestada por Diego Barcellos, mixologista que começou a frequentar os eventos como participantes e se tornou parte do projeto: “Naquela época todos comentavam sobre os encontros e como era possível aprender bastante. Eu mesmo passei a enxergar a mixologia de forma diferente, mais específica em termos técnicos e de produtos”, conta.
Originalmente composta por oito profissionais, a equipe logo teve de ser reforçada para atender a demanda vinda de São Paulo e Rio de Janeiro. A transição para âmbito nacional deu-se em seguida.
“Por seu pioneirismo ao se comunicar com conteúdo diferenciado, o Clube do Barman tornou-se muito popular em um curto espaço de tempo”, lembra James Guimarães. Ele conta que a realização de um campeonato – o Absolut Creative Drinks – foi outra consequência natural.
“Precisávamos de uma disputa democrática, que mobilizasse a classe e uma grande variedade de bares”.
James Guimarães sobre o Absolut Creative Drinks.
A competição foi a porta de entrada no mercado para muitos profissionais, entre eles o pernambucano Alan Souza. “Fui um dos vencedores e ganhei o que considero até hoje a melhor viagem do mundo, para New Orleans e Nova York”, lembra. Alan atuou como mixologista da Pernod Ricard e atualmente é consultor on trade na região nordestina.
“O Nordeste foi uma grata surpresa, assim como o interior paulista. São mercados que cresceram vertiginosamente. Há muito engajamento da classe e nossos estudos mostram que a presença de profissionais capacitados tem desempenhado um importante papel de orientação aos futuros empreendedores do segmento”, contextualiza James Guimarães.
EXPANSÃO
Luiz Pagano foi um dos que se integrou à equipe já em fase de expansão. “Sempre tive um perfil formador, com longa trajetória de mercado e quando tive a chance de unir minha experiência ao Clube do Barman considerei uma grande conquista. Não sou barman, atuo em comércio internacional e, por isso, meu foco nos treinamentos tem sido transformar as características das bebidas em benefícios de venda. Foi um processo de três, quatro anos, mas muito recompensador até agora”, avalia.
Com o sucesso da empreitada, o Clube do Barman gradativamente chegou a outros públicos: um website, uma revista exclusiva e, mais recentemente, uma atuação intensa nas redes sociais, com a fan page e um canal de vídeos exclusivos no Youtube.
Para o gerente de trade marketing da Pernod Ricard Brasil, André Limaverde, a evolução do projeto é um importante agente para popularizar o conteúdo e alcançar não só os mixologistas, mas também curiosos, profissionais de outros mercados e pessoas que tem a coquetelaria não como trabalho, mas como hobby, por exemplo:
“Esta atuação maciça nos ajuda em todas as esferas. Cada vez mais vemos bares que se propoem a ter cartas de drinks mais elaboradas, o que ajuda a socializar os clientes, gera interesse, curiosidade e impacto. E isso acaba sendo fundamental para continuarmos crescendo e buscando estratégias para levar o assunto para cada vez mais gente”, diz.
O processo, segundo Limaverde, solidifica e desenvolve o mercado no Brasil. “Estrategicamente faz todo o sentido. Partimos do networking e da capacitação dos mixologistas, para que promovessem uma boa experiência de consumo. Hoje somos fonte de consulta, informação e inspiração, proporcionando a universalização do tema”.
“Há uma quantidade infindável de recursos para tornar a coquetelaria cada vez mais forte por aqui”, completa Pagano. Ele cita como exemplo o projeto Tembiú, no Pará, que pela marcou pela primeira vez um grande investimento de uma empresa privada na pesquisa de ingredientes genuinamente brasileiros para utilização em novos coquetéis.
PRÓXIMOS DESAFIOS
Projetos pioneiros tem sido parte da rotina da primeira década do Clube do Barman e continuarão sendo realizados. Conforme antecipa James Guimarães, uma das prioridades no momento é aproximar cada vez mais a rede de profissionais para desenvolver a plataforma como um todo.
“Não queremos disputas, mas sim compartilhamento”, defende. “Acabo de chegar do evento de embaixadores mundiais de Absolut e trago muitas lições de como os bartenders se relacionam no dia-a-dia com seus parceiros. No Brasil há ainda algumas atitudes que precisam ser revistas em favor da hospitalidade e isso, sem dúvida, é uma meta que temos pela frente”.
Na concepção de André Limaverde, outra prioridade é fazer com que a coquetelaria brasileira deixe de ser apenas um nicho e se torne um segmento mais abrangente. “Queremos que o consumidor possa entrar em qualquer bar e ter a certeza de que vai saborear um drink de qualidade”, diz.
Já Luiz Pagano defende a continuidade e o aprimoramento de técnicas e pesquisas, outro ponto crucial para os próximos anos, em sua opinião: “Nossos mixologistas seguem empenhados em explicar e buscar as melhores formas de trabalhar os produtos de nosso portfólio, cada vez mais abrangente”, diz.
Dentre as ações recentes, ele ressalta a dedicação da equipe da Pernod Ricard Brasil em criar releituras e novos coquetéis à base do gin Beefeater, motivada pela alta que a bebida tem alcançado tanto em âmbito nacional quanto global.
Por fim, Lelo Forti chama a atenção para a necessidade de manter o perfil inovador que caracteriza o Clube desde 2006. Dentre os pontos que considera primordiais estão a atualização das ações bem-sucedidas, a revisão do foco em outras – “campeonatos servem para promover (…) e viagens devem ser inspiradoras e educacionais”, aponta – e a percepção sobre o que o profissional de bar precisa e espera da indústria.
Em meio a tantas constatações e desafios, uma coisa é certa: trabalho não há de faltar para que a segunda década do Clube do Barman torne-se tão produtiva e recompensadora quanto a primeira. Então… Um brinde e mãos à obra!