⍟ Ainda que a virada de ano seja diferente, não pode faltar aquele champagne ou espumante para começar bem 2021. Saiba como essas bebidas tornaram-se símbolo do Réveillon, as diferenças entre elas, como sabrar corretamente uma garrafa e como utilizá-las para fazer drinks simples e incríveis.
Mesmo em um ano atípico, algumas coisas nunca mudam na noite de Réveillon: a ceia farta, a contagem regressiva e uma boa garrafa de espumante à meia-noite. Embora façamos isso todos os anos, já parou para se perguntar de onde vem a tradição de comemorar a passagem de ano com uma taça de champagne ou espumante em mãos?
Como muitos rituais que estão enraizados em nossa cultura, a ação de estourar uma garrafa da bebida vem dos povos europeus. Kolleen Marie Guy, professora de história da Universidade do Texas e autora de um livro sobre a história do champagne, “When champagne became french”, afirma que esse comportamento data do século XVI. Na época, apenas os poderosos aristocratas franceses tinham o privilégio de abrir uma boa garrafa da bebida francesa em suas festas e ocasiões sociais.
O champagne era símbolo de status social – e até hoje se mantém uma bebida que esbanja refinamento. Além do elevado valor à época, grande parte disso se deve à delicadeza de sua produção e o cuidadoso processo de gaseificação natural, e das variedades de uvas e safras que podem compor a bebida de uma boa maison.
Acreditava-se que o champagne embelezava as mulheres e fortalecia os homens e, aos poucos, a bebida começou a se fazer mais e mais presente nas grandes festividades. Muito da popularidade do champagne – e consequentemente, do espumante – veio da demanda e do aumento da capacidade de produção por parte das maisons. Na Europa, após a Revolução Francesa, muitas pessoas passaram a substituir os rituais religiosos por brindes feitos com a bebida.
No século XIX, de acordo com Marie Guy, a produção anual de champagne passou de 300 mil para dois milhões de garrafas, tornando-o mais acessível às classes menos favorecidas e logo ela passou a ser a escolhida para ocasiões que iam de casamentos a batizados, até festas de despedida e réveillons.
Atualmente, os espumantes têm um valor agregado nas comemorações que vai além das características do produto em si. Ele tornou-se um sinal de fartura e boa sorte. Nos pódios de corridas, é tradição a garrafa de champagne ser dada ao vencedor. No mundo inteiro, os navios são batizados com o estouro de uma garrafa em seu casco. Diz a lenda que se a garrafa não estoura quando arremessada, é sinal de mau presságio.
AS BORBULHAS NO BRASIL
Muito embora o Brasil tenha bebidas, comidas e tradições culturais próprias, muitas festividades contam com a inspiração europeia. Isso, claro, é fruto da colonização europeia em nosso território e também da difusão midiática da estética predominante no hemisfério norte. Prova disso é a ceia natalina e até mesmo a decoração para a data, que não condizem com o clima encontrado por aqui.
As comemorações à base de champagne começaram no final do século XIX e tiveram mais expressão no século XX, com a importação da bebida para grupos de elite, nos mesmos moldes que aconteciam na Europa. Reproduzindo os costumes estrangeiros, logo o Brasil começou a produzir bebidas semelhantes e que se encaixavam no poder de compra nacional. Por isso, hoje as cidras têm presença marcada no Natal e no Ano Novo.
CHAMPAGNE E ESPUMANTES
A esta altura você deve estar se perguntando o que diferencia o espumante de um champagne. Não é uma mera questão de estilo ou preço. Para fins de classificação, o champagne é considerado um tipo de espumante, ao lado dos proseccos e dos cavas.
Por lei, o champagne só pode ser produzido na região francesa de mesmo nome, ou seja, trata-se de um produto de origem controlada. É feito a partir de uvas Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier. Outro ponto que precisa ser esclarecido é que sua segunda fermentação ocorre diretamente dentro da garrafa. Perrier-Jöuet é, atualmente, uma das maisons mais premiadas pelas expressões exclusivas de champagne que produzem.
Os proseccos são espumantes de origem italiana. Por definição, eles devem conter, no mínimo, 85% de uva Glera (ou Prosecco). Sua segunda fermentação é feita dentro de tanques de aço inox.
Já os espumantes do tipo cava são produzidos na Espanha com a segunda fermentação dentro da garrafa. Apesar de não estar restrito a uma única região, as uvas utilizadas em sua produção precisam ser de vinhedos autorizados, tais como as brancas Macabeo, Malvasía, Chardonnay, e as tintas, Monastrell, Pinot Noir e Trepat, entre outras.
Por outro lado, os espumantes comuns podem ser feitos a partir de uvas tintas e brancas de qualquer lugar do mundo – na Ásia, Oceania e até mesmo aqui no Brasil. Sabores, aromas e outras notas sensoriais são fruto das diferenças de uvas escolhidas para produzir cada marca, sua maturação e até mesmo a localidade onde é fabricado. Entre os mais prestigiados espumantes feitos na América do Sul está o Mumm, produzido na região de San Rafael, nas imediações da cidade de Mendoza, na Argentina.
MAS E OS FRISANTES? E AS CIDRAS?
Você pode ter sentido falta destes dois tipos de bebidas na classificação que falamos anteriormente. Isso tem um motivo. Os espumantes e champagnes, por definição, passam por dois períodos de fermentação natural – dentro e fora da garrafa. É por esse motivo que quando servimos a bebida na taça, logo escutamos o borbulhar efervescendo.
Os vinhos frisantes passam somente por uma etapa de fermentação das uvas, obtendo por isso quase metade do gás carbônico que encontramos nos espumantes. Os lambruscos, por exemplo, são frisantes bem conhecidos no mercado internacional.
Já as cidras, bastante populares por aqui na comemoração do Réveillon, não podem ser consideradas espumantes nem vinhos frisantes. Embora sejam feitas de uvas, sua fermentação não acontece de forma natural – o gás carbônico é inserido artificialmente na bebida.
SABRANDO A GARRAFA DE CHAMPAGNE
Sabe como conseguir aquele ‘POP‘ que marca a virada do ano? Ele vem da retirada abrupta da rolha da garrafa com a pressão da bebida. Para alguns, usar um abridor comum para retirar a rolha já é suficiente, mas é possível tornar esse ritual ainda mais marcante através da sabragem – ou seja, a ação de ‘degolar’ a garrafa para abri-la.
A sabrage surgiu na França, no final do século XVIII, quando a bebida já era considerada símbolo de requinte entre a nobreza. Afirma-se que Napoleão Bonaparte usava seu sabre para estourar uma garrafa e brindar com seus aliados. “Merecido nas vitórias e necessário nas derrotas”, costumava dizer.
Para ser realizada com perfeição, a sabrage precisa seguir algumas regras que visam a segurança e a beleza do ritual. Entre elas, a inclinação da garrafa, que deve ficar entre 45º e 60º, o uso do instrumento de ‘corte’ que precisa dar um golpe preciso abaixo da rolha e a taça a ser utilizada – geralmente a flute, própria para o consumo da bebida. Se feita de forma incorreta, pode causar acidentes.
A matéria abaixo dá detalhes do passo a passo para fazer a sabragem perfeita para o Réveillon:
COCKTAILS PARA O RÉVEILLON
Se quando é servido puro já encanta nosso paladar, combinado em drinks equilibrados, o sabor do champagne e dos espumantes podem ser a estrela do cocktail. Eles também podem servir de base alcoólica tanto para a adição de outros spirits quanto para xaropes, sucos, purês e outros ingredientes doces. Sua versatilidade é notável e deixa o caminho livre para criação.
Veja a seguir como preparar alguns drinks simples com espumantes e champagnes:
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