Shaken VS Stirred: Como escolher entre bater e mexer um drink

⍟ Aqui estamos nós, prestes a mergulhar num dos grandes dramas da coquetelaria, onde a escolha entre agitar ou mexer um cocktaill é tão crítica quanto a escolha do figurino de um dançarino.

Quando recebemos uma ficha técnica de uma receita, o método geralmente está descrito de forma taxativa: BATIDO. Ou MEXIDO. Porém nem tudo é escrito em pedra. Cabe ao bartender lançar um olhar atencioso sobre a receita, seus ingredientes e o resultado que deseja alcançar com a técnica empregada. Ainda mais quando a escolha do método de preparo deve ser feita inexoravelmente pelo bartender, quando cria um drink autoral. Daí surgem as indagações: está certo fazer Caipirinha na coqueteleira? Drinks cremosos podem ser mexidos? Agitar o Dry Martini estraga o drink? Criei um drink: fica melhor batido ou mexido? As respostas podem ser mais abertas e sutis do que se pensa. E para começar a reflexão, devolvemos com uma pergunta: qual resultado você espera alcançar?

Shaker: uma dança cintilante

É como uma dança frenética, uma performance cativante que acontece atrás do balcão. Imagine um bartender habilidoso agitando um cocktail com um shaker – é quase como assistir a uma estrela do palco em ação: misto de dor e encenação para um resultado espetacular, onde as fibras musculares são levadas ao extremo da exaustão e os movimentos devem estar associados ao incansável sorriso no rosto. Os ingredientes se misturam, as cores se fundem e os aromas se entrelaçam em uma coreografia cintilante. O gelo se forma no exterior do metal frio, as mãos ficam levemente dormentes. Et voilà. Por que fazer isso? Mais: quando fazer? Bem, isso é o que estamos prestes a descobrir.

O ballet elegante da mistura

Se por um lado a coqueteleira é símbolo de nossa profissão e o shake parece ser o grande ápice da preparação de um drink, por outro, há uma técnica mais tranquila e refinada que tem seu lugar: mexer um cocktail com graça e suavidade da bailarina no mixing glass. É o ballet delicado do mundo dos cocktails, onde os ingredientes se entrelaçam com a suavidade de um passo bem coreografado. Os movimentos são suaves, controlados e precisos, como os passos do Lago dos Cisnes. Mas será que isso é sempre a melhor escolha?

Quando agitar?

Ah, o shaker! Ele é como a estrela do rock do mundo dos drinks, sempre pronto para um solo eletrizante. Então, quando você deve escolher esse estilo? Bem, imagine um drink com sucos cítricos frescos, xaropes, clara de ovo ou até mesmo ingredientes rebeldes, como frutas ou ervas selvagens. É quando o shaker entra em cena, agitando vigorosamente para criar uma sinfonia de sabores. É como um show de rock ao vivo – alto, enérgico e cheio de surpresas.

No mundo da coquetelaria, agitar é o ato de injetar energia em um drink, transformando-o em um frenesi de sabores e texturas. Este é o caminho quando você lida com ingredientes de diferentes densidades. O agitar vigoroso é como um torbellino de paixão no palco, quebrando as barreiras entre os componentes e incorporando-os em uma harmonia perfeita. Além disso, o gelo no shaker não só resfria a mistura, mas também dilui o cocktail. Isto porque parte da energia mecânica empregada no ato resulta em atrito entre os componentes do drink. Este atrito gera calor, que derrete o gelo, suavizando os contornos da receita. A agitação das moléculas também deixa um rastro de turbidez no líquido, como uma nuvem de mistério no palco.

Quem vê o sorriso no rosto não imagina a lesão por esforço repetitivo

 

Quando mexer?

Aqui entra o mexer, a escolha elegante para cocktails que pedem calma e controle. Pense em um Martini – gin e vermouth dançam suavemente no mixing glass, como um casal de baile em um salão luxuoso. Os movimentos são tão precisos que preservam a clareza e a delicadeza dos sabores, como um dançarino coreografado que sabe exatamente onde colocar cada pé. É o equilíbrio perfeito entre força e sutileza, como um verdadeiro clássico que nunca sai de moda. O movimento suave e controlado que faz dos cocktais verdadeiras obras-primas da clareza.

Quando você busca uma experiência de bebida cristalina, com sabores preservados em sua essência, o mexer é a estrela. Cocktails à base de destilados, como o Martini, revelam sua verdadeira natureza com este método. Cada volta do mexedor é como uma nota de piano tocada com precisão, diluindo sutilmente a bebida para atingir o equilíbrio perfeito. O resultado? Um cocktail tão transparente quanto o reflexo de um diamante, sem turbidez, onde cada molécula está em perfeita harmonia, como uma sinfonia inesquecível no copo.

Quando falamos em movimentos suaves de bailarinas rodopiando é a isso que nos referimos

 

Shaken, not stirred: 

A frase “Shaken, not stirred” é mais do que um simples pedido. É uma marca registrada, uma expressão icônica que evoca imagens de elegância e mistério. E quem a popularizou? Ninguém menos que o lendário espião britânico, James Bond.

Para os fãs de 007, essa ordem específica é uma parte crucial da identidade de Bond. Quando ele pede seu martini dessa maneira, está enviando uma mensagem clara: ele não é um homem comum, e seus gostos não são triviais. Mas o que exatamente essa frase significa no contexto da mixologia?

Ao pedir que seu martini seja “shaken, not stirred”, James Bond está fazendo uma escolha deliberada. Ele prefere que seu cocktail seja agitado em um shaker, em vez de apenas mexido. Essa preferência é muito mais do que uma preferência pessoal – é um reflexo da personalidade de Bond. Ele gosta de um martini que tenha uma certa turbidez, uma textura ousada e uma temperatura perfeitamente resfriada. Para ele, essa técnica de agitação confere à bebida uma qualidade distinta, quase desafiadora.

james bond shaken not stirred

Barroco, inovador, vanguardista? Mais de uma vez James Bond foi incisivo para a quebra de paradigmas na coquetelaria

 

Uma adição técnica aqui pode ser relevante: grande parte das vodkas utilizadas nos bares à época eram feitas a partir da destilação de álcool de batatas. Isso deu origem a uma bebida com traços mais gordurosos do que a vodka de grãos. Ao batê-la com gelo, as moléculas de gordura se desprendem da vodka e grudam no gelo que, em seguida, é descartado, tornando o produto final mais palatável.

A frase “Shaken, not stirred” não apenas se tornou parte integrante da mitologia de James Bond, mas também deixou sua marca na cultura dos cocktails. Muitos bartenders e entusiastas de bebidas consideram o martini agitado como uma opção mais contemporânea e ousada em comparação ao tradicional martini mexido. Essa preferência, influenciada pelo agente secreto mais famoso do mundo, mostra como uma simples escolha de preparo pode se transformar em um ícone cultural.

Quando não agitar

Atenção, atenção! Se todos os bartenders lessem isso, menos acidentes aconteceriam atrás do balcão, de modo particular com os iniciantes e amadores. NUNCA AGITE NA COQUETELEIRA ingredientes carbonatados. Refrigerantes, tônicas e espumantes quando agitados aumentam muito a pressão interna da coqueteleira causando uma explosão capaz de lavar você, o balcão e o público. A mesma coqueteleira que trava e não cede quando você quer se abre como uma flor diante da expansão dos gases caso você agite este tipo de bebida dentro dela. O resultado é quase sempre mais cômico do que trágico, porém todos queremos evitar uma chuva de Cuba Libre, não é?

A Escolha Certa para o cocktail certo

Então, qual é o veredito? A resposta é tão sutil quanto a diferença entre um passo de dança e outro. Depende do cocktail que você está criando e de sua intenção.

Da próxima vez que você estiver no bar ou preparando drinks em casa, lembre-se de escolher o método que melhor complementa a personalidade do seu cocktail. Seja shaker ou mixing glass, o resultado final esperado é sempre uma obra-prima líquida esperando para ser apreciada. E agora que você conhece a diferença, brinde à sua próxima criação com confiança, sabendo que você é o maestro por trás do show de rock ou do minueto em seu cocktail.

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