⍟ Profissionais de bar e de outras áreas discutem os desafios e cuidados que envolvem o tema
Noites mal dormidas, muitas horas em pé, movimentos repetitivos… A rotina dos bartenders é intensa e exige esforço físico para sustentar a excelência dos drinks e cativar os clientes durante a jornada de trabalho. Há casos em que o desgaste acumulado é tanto que surgem problemas de saúde relacionados à posturas e movimentos repetitivos. Para discutir o tema e propor soluções, o Clube do Barman conversou com alguns profissionais da categoria e também da fisioterapia.
“Os profissionais mais jovens pensam que a dor não é nada e por isso não a tratam corretamente”
James Guimarães
Para o mixologista James Guimarães, com 18 anos de experiência – dez pela Pernod Ricard Brasil -, é preciso ter consciência dos desafios diários da profissão. Ele faz exames médicos e atividades físicas com frequência, além de garantir horários regulares de descanso para garantir uma boa saúde. “Se não corro, faço caminhada durante uma hora por dia, no mínimo”, revela.
Há algum tempo, James sentiu na pele a necessidade de fazer mudanças após negligenciar algumas práticas e sintomas físicos. O movimento com os punhos para mexer a coqueteleira, por exemplo, rendeu-lhe uma tendinite, problema crônico que alivia com o uso de munhequeiras.
“Os profissionais mais jovens pensam que a dor não é nada e por isso não tratam dela corretamente. Os remédios precisam ser indicados por médicos competentes. Lá na frente os bartenders acabam sentindo o peso do trabalho”.
James ressalta que, devido à falta de tempo, muitos barmen também não se alimentam corretamente, com longos intervalos entre as refeições. Por isso faz exames de check-up a cada seis meses, para tentar evitar problemas como diabetes e colesterol.
PRÓS E CONTRAS
Consultor on trade da Pernod Ricard Brasil, Alan Souza lembra os nove anos como bartender em hotéis e cruzeiros marítimos, para tratar do assunto.
“Há bartenders que transportam engradados de cerveja e outros volumes mais pesados, como sacos de gelo, por exemplo, que podem ser prejudiciais à coluna. O número de horas de trabalho ininterrupto também é algo a ser revisto”, sugere, mencionando o cansaço e as dores nas pernas ao final de cada expediente.
Ele reforça que além de regular melhor os horários de trabalho, é preciso capacitar os bartenders e conscientizar os donos de estabelecimentos sobre a importância destas práticas. “Ter mais profissionais no atendimento do balcão faz com que todos trabalhem menos, rendam mais e sejam mais receptivos aos clientes”, diz.
“Ser bartender está longe de ser uma festa, portanto o autocontrole é crucial”
Paulo Corghis
MUDANÇA RADICAL
Apaixonado pela criação de coquetéis, aos 45 anos o bartender Paulo Cesar Corghis esbanja disposição após 11 anos na área. Mas nem sempre foi assim. Fumante por 25 anos, ele abandonou o vício em favor da saúde. Aos poucos, deixou de sentir-se vulnerável a doenças, evitando problemas que antes eram corriqueiros, como gripes e inflamações da garganta.
Assim como James Guimarães, ele recorre às meias de compressão para ajudar na circulação e prevenir futuras complicações nos membros inferiores, também bastante comuns entre os profissionais de bar.
Outro hábito que ele cultiva para manter o bem-estar é cuidar da postura e fazer atividades de alongamento, relaxamento e, na medida do possível, algum exercício laboral.
Ele aconselha os novatos a se cuidarem como se fossem atletas. “Ser bartender está longe de ser uma festa, portanto o autocontrole é crucial”, conclui.
MOVIMENTOS PERIGOSOS
Quais são os movimentos e práticas mais repetidos durante a jornada de trabalho atrás dos balcões? Numa avaliação rápida, podemos listar: levantamento de objetos pesados, rotação da coluna vertebral, movimentos rápidos com mãos e punhos para manusear coqueteleiras e garrafas, além da permanência em pé por longas horas.
Para a fisioterapeuta Roberta Teixeira Ranieri, que é pós-graduada em fisioterapia dermato-funcional e aprimoramento em quiropraxia, alguns cuidados são importantes. Ela explica que os bartenders devem ter cuidado com o giro rotacional do tronco ao pegar objetos localizados atrás do balcão: “o correto é girar o corpo inteiro para não causar algum tipo de lesão na coluna”, diz.
Outra dica importante para evitar esta curvatura é ter os itens na direção dos olhos. “Ter o balcão posicionado na altura da cintura coopera para evitar que ele trabalhe com uma postura errada”.
Ao usar as coqueteleiras com movimentos repetitivos, ela ressalta que deve-se prestar atenção no posicionamento do punho para não acarretar outras lesões.
Longos períodos em pé também geram má circulação sanguínea nos pés e nas pernas. Para amenizar este efeito, a fisioterapeuta sugere a colocação de um tablado no chão para alternar o peso dos membros inferiores. É uma das opções como alívio ao desconforto.
Para evitar escorregões durante a jornada laboral, ela lembra que o ideal é que o espaço atrás do bar tenha o chão revestido de piso antiderrapante ou mesmo um tapete emborrachado.
Além disso, estabelecer momentos de pausa é parte importante do trabalho. “O ideal é que o barman faça uma pausa de cinco minutos a cada uma hora para fazer um rápido alongamento, ir ao banheiro ou pelo menos caminhar um pouco pelo bar”, recomenda. Estes momentos evitam o stress mental e físico, fazendo com que o profissional trabalhe por mais tempo com disposição.
De acordo com ela, o tipo de alongamento mais importante para o bartender é o que envolve os membros superiores e a coluna cervical, que são as partes mais utilizadas na preparação dos drinks, embora ressalte que, à medida do possível, o corpo como um todo deve receber atenção e cuidados.
Embora a prática de atividades físicas regulares seja importante ao preparar-se para os esforços da profissão, Roberta lembra que não é obrigatório praticá-las todos os dias, mas, ao menos três vezes por semana, para fortalecer os membros superiores, inferiores e a musculatura das costas e do abdômen. “É preciso fazer exercícios, não para ganhar massa muscular, mas para fortalecer e alongar a musculatura”, esclarece.
Boas opções, segundo ela, são a natação e o pilates, que contribuem para o fortalecimento, alongamento e o equilíbrio.
Além disso, Roberta recorda que outros fatores influenciam no rendimento do profissional, como a iluminação e a temperatura do ambiente.
O ideal é que não haja nenhum tipo de luminosidade que incida diretamente sobre os olhos do bartender. A exposição a efeitos luminotécnicos por períodos prolongados pode provocar ofuscamento da visão, levando o profissional a um estado de irritabilidade que diminui a disposição e a concentração.
Quanto à temperatura, nem ambientes muito frios e nem muito quentes. Segundo ela, no verão, o ideal é que o ar esteja regulado entre 20 e 23ºC. Já no inverno, o corpo fica mais predisposto ao trabalho quando exposto a temperaturas entre 23 e 26ºC
O QUE HÁ NO MERCADO?
Além das meias de compressão, bastante populares entre os bartenders, também existem outros itens no mercado que podem ajudar o barman a manter uma postura mais confortável no desempenho da função.
Um exemplo são os speedracks, criados nos Estados Unidos na década de 90. Eles servem para que o bartender organize garrafas e outros objetos abaixo da bancada, para evitar movimentos repetitivos de rotação da coluna.
Quando o barman já apresenta algum tipo de lesão, munhequeiras ou suportes de pulso podem ajudam a aliviar o impacto no uso da coqueteleira ou abertura de garrafas. Idem quanto aos sapatos ortopédicos, que preservam os membros inferiores.
Além disso, alguns itens especificamente usados na coquetelaria também já foram pensados para facilitar favorecer a ergonomia.
Um deles é a colher bailarina. Seu tamanho e espiral auxiliam sua rotação minimizando a movimentação do pulso e poupa esforço do profissional quando utilizada corretamente.
O formato e tamanho do jigger também foram pensados para que o barman possa manuseá-lo entre os dedos sem a necessidade de usar e torcer a mão para utilizá-lo.
As biqueiras para garrafas surgiram com a função de economizar tempo do barman e ajudar na organização do bar, uma vez que evitam a perda de tampas. Por outro lado, também são ergonômicas, na medida que não exigem o movimento com as mãos para rosquear a tampa da garrafa.
É importante ressaltar que a conscientização sobre a otimização dos movimentos executados atrás do balcão começa fora dele. É necessário refletir sobre como os utensílios estão sendo usados e chegar a uma conclusão sobre a aplicação que cause menos esforço físico.
Acima de tudo, é importante que o próprio bartender estude os movimentos que realiza durante o trabalho e consulte sempre profissionais de saúde em caso de dúvidas ou eventuais sintomas de dor, para que possam ajudá-lo a obter um melhor desempenho e superar e prevenir eventuais contratempos relacionados à saúde e bem-estar.
2 commentsOn Como melhorar a ergonomia atrás dos balcões
Excelente matéria! 6 ~ 8 horas atras do balcão são realmente desgastantes
Interessante essa matéria, realmente quem trabalha nesta área sofre com às dores físicas provocadas pelos movimentos repetitivos e longas horas em pé. Ótimas dicas. Parabéns!
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