⍟ Primeira edição do campeonato a contar com participação brasileira estimulou a troca de conhecimentos sobre whisky, ingredientes regionais, experiências e provou, acima de tudo, que o trabalho em equipe é fórmula de sucesso atrás do balcão
Publicado em 04 de julho de 2018, às 11 horas.
Alex Sepulchro venceu, no último dia 11, a etapa nacional do Chivas Masters 2018. O barman do Frank Bar não imaginava que, em pouco menos de um mês, viveria uma grande experiência de coquetelaria internacional. A premiação como Chivas Masters Global pode não ter vindo desta vez, mas isso não o desanimou. O sucesso de um é o sucesso de todos e, por isso, os 21 melhores bartenders do mundo comemoraram, na última sexta-feira (29), a vitória do tailandês Arron Grendon.
A jornada rumo à capital inglesa começou dias antes, na Escócia. Lá, Sepulchro pôde ter o primeiro contato com os competidores e conhecer a destilaria de Strathisla, casa de Chivas Regal desde 1786. Uma das grandes experiências vividas no país, berço do whisky, foi poder conhecer e aprender um pouco mais sobre a bebida com o master blender da marca, Colin Scott. Além de guiar um tasting de Chivas Regal 25, ele também deu a oportunidade dos finalistas experimentarem uma dose de Chivas Extra diretamente do barril.
“Foram coisas únicas e especiais. Nós também pudemos ir à fazenda de Chivas conhecer mais sobre a matéria-prima que eles usam”, relembra. “Todos na destilaria são apaixonados pelo que fazem e ser parte disso é gratificante”, afirma o bartender brasileiro.
DESAFIOS INDIVIDUAIS E TRABALHO EM EQUIPE
Já em Londres, teve início a maratona de testes, desafios e drinks que levaria à escolha dos três grandes finalistas do Chivas Masters 2018. Nem houve tempo para que os participantes desfizessem as malas ou descansassem antes da competição e logo foram surpreendidos pelo primeiro challenge.
Individual, a prova determinava que cada participante reproduzisse seu cocktail vencedor na etapa nacional para quatro jurados: Matt Whiley (mixologista e dono do bar Scout, em Londres), Bea Bradsell (produtora do London Cocktail Week e filha do bartender Dick Bradsell), JJ Goodman (fundador do London Cocktail Club) e Laura May Cooper (co-fundadora da agência Social Life).
Logo na sequência, em grupos de sete pessoas, os bartenders deviam criar drinks com os ingredientes propostos e postá-los em suas redes sociais. Já no último, em trios, Sepulchro, Louis Marcpherson (Austrália) e Arron Grendon (Tailândia), precisavam criar um cocktail a partir de ingredientes sazonais de Londres. “Nós criamos a bebida e o conceito em grupo, balanceamos o drink em grupo e nos apresentamos juntos. O Chivas Masters foi criado realmente para que não fizéssemos nada sozinhos, sempre em comunidade”.
Entre os desafios, os finalistas puderam conhecer mais sobre o trabalho dos jurados e trocar experiências importantes sobre insumos, atendimento e outros aspectos da coquetelaria em oficinas. “Todos os dias foram muito intensos. Nós acordávamos às oito da manhã e ficávamos até 23 horas fazendo workshops e testando receitas”, afirma. Mas a experiência foi recompensadora. “Esse foi meu primeiro campeonato internacional, eu absorvi muita informação, muita coisa boa, valeu a pena do início ao fim!”.
BROTHERHOOD
No penúltimo dia de competição, foram anunciados os três finalistas do Chivas Masters 2018: Louis Lebaillif (França), Arron Grendon (Tailândia) e Filip Jancarek (República Tcheca). Os demais finalistas foram divididos em três grupos para o final challenge. Nele, as três equipes teriam um dia todo para criar o design, o conceito, a carta de drinks e o estilo de um bar próprio. O intuito era servir 250 convidados e os jurados para o evento final.
Sepulchro integrou a equipe do #Brotherhood, liderada por Filip Jancarek. O time contava também com Valentino Longo (EUA), Alex Godfrey (Reino Unido), Bartosz Konieczny (Polônia), German Gochev (Bulgária) e Oscar Jesus Armenta Garcia (México).
“Nós fizemos um grande trabalho no Brotherhood. Ficamos muito engajados nesse último desafio não só para fazer com que o Filip Jancarek fosse campeão, mas também porque estávamos muito entrosados e engajados. Tinha muita união”, conta.
Eles foram avaliados nos seguintes requisitos: hospitalidade e espírito de comunidade; sustentabilidade e geração de lixo; clima e aparência do bar; ingredientes e carta de drinks.
O time do finalista Louis Lebaliff, Broken Bench, contava também com o apoio de Michael Chen (China), Stefano Ruocco (Emirados Árabes), Fabián Ramos (Cuba), Julio Ruiz (República Dominicana), Houssam Bennani (Marrocos) e Chloé Merz (Suíça.)
A equipe vencedora, que ajudou a compor o design, o conceito e a carta de drinks do pop-up bar One Night In Bangkok, do vencedor Arron Grendon, foi composta pelos finalistas Angel Solorzano Chumpitaz (Peru), Martin Suaya (Argentina), Kentaro Wada (Japão), Yuta Inagaki (Hong Kong), Rick Marson (Holanda) e Louis Marcpherson (Austrália).
ROTA DE BARES LONDRINOS
Impossível estar em Londres e não sentar-se frente um dos milhares de balcões para conhecer mais sobre a tradição da cidade. Como parte do roteiro da competição, os bartenders puderam conhecer duas casas de referência. A primeira delas, o Scout, é comandada por Matt Whiley, um dos jurados do campeonato, chamou atenção pelo desperdício zero e aproveitamento integral dos insumos naturais.
Ainda em Shoreditch, os 21 barmen também puderam experimentar os drinks do speakeasy mundialmente famoso Happiness Forgets.
Mas a saída de campo não acabou por aí. Apaixonado por alguns bares da capital, Sepulchro decidiu visitar mais três estabelecimentos por conta própria: Artesian, American Bar e Gibson. Este último, chamou a atenção do bartender paulistano pelo cuidado aos detalhes e pela personalidade que lidera a equipe da casa. “O Marian Beke é uma grande referência de coquetelaria para mim. Do atendimento à apresentação dos drinks, tudo era perfeito”, relembra.
NA BAGAGEM DE VOLTA
E o que Sepulchro levará de volta para sua comunidade no Frank Bar? Certamente algo bem mais importante do que qualquer item material. “Principalmente o espírito do trabalho em equipe e a hospitalidade”, aponta. Na opinião dele, Londres não é a capital mundial da coquetelaria por acaso. Há muito trabalho duro por trás de cada cocktail servido.
“Todos são muito hospitaleiros, o clima é bem legal e você é sempre bem atendido. Algo que me chamou atenção foi sempre servirem um welcome punch“, relembra. “Mesmo que o bartender não consiga te dar atenção no momento em que você chega, você já pode beber alguma coisa e isso quebra o gelo. São detalhes como esse, tão diferentes para nós, brasileiros, que vou tentar passar para a equipe”.
Experiências como essas fizeram com que ele já pense no próximo campeonato. “Tudo isso me dá vontade de participar de uma próxima edição e tentar uma colocação melhor para o nosso país. Só de poder participar dessa experiência, já foi sensacional. Recebi muitas mensagens de apoio dos barmen brasileiros e isso me ajudou bastante. Foi incrível!”.
ARRON GRENDON: CHIVAS MASTERS GLOBAL 2018
O júri da etapa global elegeu a equipe do One Night In Bangkok, e seu líder, Arron Grendon, como vencedores da competição. Como prêmio, Grendon ganhou total acesso à edição do Tales Of The Cocktail deste ano, em Nova Orleãs, além da oportunidade de viajar o mundo com a equipe de Chivas Regal para inspirar outras comunidades de bartenders internacionais.
A receita que o levou à final mundial, ‘The Grind’, foi inspirada em sua mãe e nas histórias que ela costumava contar sobre o trabalho duro e dedicação dos fazendeiros tailandeses para produzir arroz e outros alimentos para que as pessoas pudessem comer – assim como John e James Chivas, fundadores da marca, que também eram fazendeiros.
“Eu amo a comunidade nos mercados de Bangkok que unem as pessoas ao redor do mundo através da comida e da bebida – e isso é o que eu queria recriar”, explicou Grendon. “Meu time passou cinco dias na corrida da etapa global, então eu pude saber no que cada um deles era bom e qual era a melhor maneira de trabalharmos juntos”.
“Quando você tem um bom time e uma boa conexão, você pode alcançar qualquer coisa”.
Veja a receita vencedora da etapa global do Chivas Masters 2018:
The Grind
INGREDIENTES
50 ml de Chivas Extra
15 ml de Fino Sherry
30 ml de Creme de arroz e coco
5 ml de Shrub de cana de açúcar
10 ml de Xarope de banana
MODO DE PREPARO
Misture todos os ingredientes em uma coqueteleira com gelo e agite bebida por dez segundos. Em seguida, faça uma dupla coagem para um copo baixo personalizado e guarneça com um ramo de trigo.