⍟ Uma receita de Irish Coffee à base de Jameson garantiu ao paraibano Emerson Nascimento, 31 anos, uma vaga no Mundial de Barismo. A competição será disputada em Budapeste, Hungria, entre os dias 13 e 15 de junho. Ele conquistou o primeiro lugar no Campeonato Brasileiro na categoria Coffee In Good Spirits.
O objetivo dos concorrentes era demonstrar suas habilidades de mixologia para valorizar o preparo de bebidas alcoólicas à base de café. Para alcançar seu triunfo, Emerson se sobressaiu no preparo de duas receitas: um drink com vodka e refrigerante de café e o Irish Coffee, este à base de Jameson. “Sempre tive boas referências de Jameson e para um bom Irish Coffee eu sabia que teria de trabalhar com um bom whiskey, um single malte, enfim, um verdadeiro uísque irlandês”, comenta.
A pesquisa levou cerca de um mês, período em que contou com a ajuda do bartender carioca Walter Garin, da escola Shake Rio. Além de lapidar a ideia, a parceria foi fundamental para o treinamento da dosagem e das técnicas de coquetelaria. O conceito foi inspirado nas características do café escolhido, de origem capixaba, com notas florais e acidez brilhante – semelhantes as do limão siciliano – e uma doçura associada ao mel e melaço de cana. A junção com Jameson coroou a receita.
O certame nacional aconteceu na cidade de Varginha (MG), no último final de semana de abril, e contou com a participação de 58 profissionais. Além da categoria arrebatada por Emerson, outras três compuseram a programação: Brewers Cup (preparo de café pelo método filtrado e manual), Latte Art (figuras feitas pelos baristas na superfície das bebidas à base de café espresso e leite vaporizado) e Cup Taster (conhecimento na distinção dos tipos de cafés).
FOCO NA HUNGRIA
“Meu foco agora é treinar a rotina de apresentação para o Mundial. Por aqui não tivemos a fase preliminar, mas ela acontecerá na Hungria. Trata-se do Spirit Bar, onde o barista é obrigado a montar dois drinks idênticos. Um com um spirit sorteado na hora e outro com o patrocinador de aromatizantes, além do ingrediente extra que podemos levar. Estou em processo de pesquisa e pensando em combinações que resultem num drink bom e competitivo”, resume.
Ele está ciente de que a missão não será fácil. Serão em torno de 36 competidores de todo planeta. No ano passado, a zona de premiação foi ocupada integralmente por europeus, australianos e orientais. Mesmo assim, ele confia em seu talento e também na ascensão do barismo brasileiro.
TRAJETÓRIA
Sua trajetória é um exemplo disso. Nascido em Santa Luzia, a 270 km de João Pessoa, Emerson mudou-se com os pais muito cedo para o Rio de Janeiro e lembra de ainda na infância provar alguns goles de café, por sugestão deles. Passou a conhecer mais sobre o preparo da bebida quando começou a trabalhar como auxiliar de cozinha, época em que foi apresentado à coquetelaria, outra novidade que chamou sua atenção. “Participei de um projeto social chamado Portal do Futuro, no Senac, onde fiz o curso de bartender. Ao final de seis meses, havia uma oficina de barista e isso despertou ainda mais meu interesse sobre café”.
Em busca da independência financeira, ele decidiu conciliar as duas profissões ao mesmo tempo. Trabalhava com café pela manhã e à noite no bar. Conta que suportou o ritmo durante um ano, mas não conseguia se dedicar como gostaria a nenhum dos dois caminhos. Optou, então, por se fixar como barista. Afinal, além de identificar uma demanda de trabalho maior, já era um apreciador incorrigível de sua matéria-prima.
Ainda assim, continuou expandindo seus conhecimentos. Acrescentou ao currículo em pouco tempo a formação como sommelier, degustador e classificador de grãos. Também estudou torra, análise sensorial, coquetelaria avançada e molecular. Com toda esta bagagem, passou a disputar competições de baristas. Os resultados foram aparecendo em modalidades diferentes, culminando com a conquista da vaga na etapa global do Coffee in Good Spirits 2017.
Irish Coffee
45 ml de Jameson
20 ml de mel da florada do café
150 ml de café filtrado
60 ml de creme de leite fresco batido com gelo
Drink com Vodka e Café
INGREDIENTES
100 ml de espresso
200 ml de suco de limão Tahiti, Siciliano e gengibre
200 ml de água de mel (70% mel e 30% água)
1 cápsula de CO2
45 ml de vodka
Limão siciliano desidratado.
MODO DE PREPARO
Em um sifão de soda, coloque o espresso, o suco, a água de mel e o Co2. Reserve. Sirva a vodka em um copo longo e com gelo. Complete com o refrigerante de café do sifão. Decore com um limão siciliano desidratado.
UM MERCADO EM EXPANSÃO
Em sua visão, a oportunidade de disputar um Mundial reflete não só sua obstinação, como também um bom momento dos baristas brasileiros.
“Trabalho há oito anos com café, desde quando comecei até hoje percebo uma grande evolução. Somos mais reconhecidos como profissionais especializados em café e o mercado tem oferecido demanda”, analisa.
Emerson acredita ainda que o caminho para que os coquetéis com café chegarem com mais frequência ao balcão dos bares depende de uma adesão cada vez mais maciça das cafeterias. “Com bons profissionais, bem preparados, teremos boas cartas de cafés e os clientes se interessarão mais, projetando o barismo”, conclui.
O caminho inverso, aliás, já tem sido percorrido. “Tenho recebido muitos bartenders nos cursos que dirijo, interessados em aprender mais sobre café. Isso agrega à profissão e faz com que trabalhem melhor a criação de drinks com a bebida”, diz.
A origem do Irish Coffee
Nos anos 1940, o aeroporto de Foynes, em Dublin, na Irlanda, era um dos mais importantes da Europa. E o principal em se tratando de hidroplanos, meio de transporte bastante comum à época. Com relativa frequência por lá aterrissavam estrelas de Hollywood e personalidades políticas influentes.
Para oferecer uma boa experiência a estes convidados, a direção do aeroporto decidiu investiu em um restaurante novo, arrojado, sob o comando de Joe Sheridan, um chef e bartender irlandês, então jovem e promissor. Foi dele a ideia de criar um drink capaz de “aquecer” a chegada dos visitantes ao Reino Unido, historicamente conhecido pelo tempo frio e nublado.
Relatos da época contam que o nome surgiu após Sheridan ter sido perguntado por um cliente se tratava-se de “café brasileiro”, visto que na época o produto-exportação tupiniquim já era bem famoso. “No, it is Irish Coffee” (Não, é café irlandês), teria respondido o bartender, batizando assim sua criação.
A receita e Sheridan cruzariam o Atlântico alguns meses depois. Autor de matérias sobre turismo para o The San Francisco Chronicle, tradicional jornal californiano, o jornalista Stanton Delaplane encarregou-se disso. Ele provou da bebida em Dublin e a indicou para Jack Koeppler, seu amigo pessoal, proprietário do Buena Vista Cafe. Como não poderiam recriá-la, Koeppler resolveu “importar” ambos.